Madeira

“No meu tempo a professora falava e os alunos ouviam”

Antiga professora e primeira mulher presidente de Câmara classifica de “péssima” a Educação de hoje

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A antiga professora do ensino ‘primário’ e primeira mulher presidente de Câmara na Madeira, Leonete dos Reis, considera muito mau a ‘desautorização’ que actualmente muitos professores enfrentam nas escolas.

“Péssima” é o adjectivo que recorre para classificar a educação nos dias de hoje.

“No meu tempo a professora falava e os alunos ouviam”, afirma de forma categórica, fazendo lembrar a professora de personalidade vincada que sempre impôs respeito nas aulas, decorria então as difíceis décadas de 60, 70 e 80.

Com a memória ainda bem fresca, a professora que se fazia respeitar dentro e fora da escola, lembra que ‘no seu tempo’ de docência não só os alunos respeitavam quem lhes ensinava, como também “os pais não diziam mal dos professores. Até vinham connosco e falavam”, recordou. Sente-se por isso triste com a desvalorização que entretanto assolou a carreira do professor, sobretudo com a crescente retirada de autoridade a que tem sido sujeito.

Confidências feitas hoje à margem da homenagem feita pela Câmara Municipal da Ribeira Brava na escola do Campanário onde foi professora durante 19 anos. Esta que foi a sua segunda casa, doravante passa a designar-se de Escola B1/PE Prof.ª Maria Leonete dos Reis.

“Sinto-me honrada e profundamente grata”

Professora Leonete dos Reis agradeceu o “singular momento” de ser homenageada

Orlando Drumond , 17 Setembro 2020 - 13:00

Para sua “grande surpresa”, a homenageada fez saber que “não esperava, muito menos receber uma homenagem deste calibre”. Apesar de continuar a manter personalidade forte, a emoção veio ao de cima durante a homenagem.

“Sinto-me realizada e foi uma profissão que escolhi desde criança. Tinha cinco anos, comecei a ser tia. Entretanto começaram a nascer mais sobrinhos e acontece que eles eram os meus alunos e eu era a professora, ali com um vime e falando alto” descreveu a própria aos jornalistas.

A memória invejável desta professora e autarca fê-la recuar a tempos idos. Ao tempo onde a escola nem sequer existia como edifício. Chamavam-se “discurso de Faro”, recorda.

Nessa altura, ainda muito antes do 25 de Abril, “as professoras arranjavam um quarto particular e pagavam do seu bolso”. Chegou a pedir apoio ao presidente da Câmara de então, mas recebeu como resposta, que não havia dinheiro para pagar as salas.

Quando acabou o Magistério começou a dar aulas num espaço no sítio da Porta Nova, onde nem mobiliário existia. A prima que era professora já reformada, ofereceu-lhe o quadro de ardósia “que ainda existe”. O pai de Leonte, como tinha madeiras, juntamente com um mestre carpinteiro da freguesia, construíram os bancos e carteiras para os alunos. A secretária da professora improvisaram-na com uma mesa da casa de jantar.

Começou com 36 alunas da 1.ª, 2.ª e 3.º classes, mas “para trabalhar melhor”, optou por dar de manhã aulas à 1.º classe, e de tarde à 2.ª e 3.ª classes.

Mais tarde a escola passou para “uma casinha na (sítio) Cruz” apenas com um quarto, cozinha e sótão, mas que era da família e ficava mais perto de casa.

Daqui passou para a primeira escola construída para o efeito no âmbito do plano centenário. Escola da Porta Nova – próximo da capela do Bom Despacho -, edifício entretanto já demolido na agora Praceta Margarida Gonçalves. Aqui leccionou durante 8 anos. Depois, pela primeira e única vez, saiu da sua freguesia para dar aulas na Escola da Candelária, na Tabua. “Dois anos para me efectivar”, justifica.

Foi então que foi construída a Escola da Igreja, em Campanário. “Concorri e fiquei. Fiquei aqui 19 anos”, afirma com orgulho a antiga professora e directora. Começou a dar aulas nesta escola em 1968. Deixou a escola em 1987 para assumir a presidência da Câmara Municipal da Ribeira Brava, na sequência da morte do então presidente Luís Mendes. Leonete dos Reis era a número dois da lista, “tive de avançar. Outra grande surpresa. Não esperava nem estava preparada. Mas sai de lá feliz”, manifesta. Apesar de só ter liderado a autarquia dois anos, deixou marca e dinheiro: “Deixei 1400 ou 1500 contos nos cofres da Caixa Geral de Depósitos”, recorda.

Razões para se sentir “honrada” com a homenagem. Sem falsas modéstias, defende que “estas coisas devem se fazer enquanto somos vivos”.

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