O tempo da União Europeia é agora
É, sem dúvida, altura de a UE inaugurar um novo caminho, rumo à recuperação económica
Numa altura de profunda crise como é aquela em que nos encontramos submergidos e para a qual não parecem existir antídotos perfeitos a curto prazo, torna-se fundamental uma resposta enérgica e contundente por forma a minimizar os estragos e a desenhar formatos que visem o alargar do laço que vamos sentido a apertar no pescoço. É por isso essencial que os Países que compõem a União Europeia pressionem as respectivas instituições para fazer valer os motivos pelas quais foram constituídas mas que lhes dêem sobretudo espaço para cumprir os seus propósitos ao invés de (como temos verificado ultimamente) estarem consecutivamente com um discurso que não se coaduna com os actos praticados. Porque é muito simples e fácil certos países dizerem que desejam uma União forte, coesa e solidária, mas depois, quando o mau tempo aperta, tratarem única e exclusivamente do seu próprio telhado deixando os outros na rua ao frio e entregues à sua própria sorte, de uma forma egoísta e até (diga-se) algo mordaz.
Para isso, é preciso que as pessoas que conduzem os países da UE percebam, de uma vez por todas, o que está em causa. Ou que aceitem, que tal como num casamento esta união não deve servir só para os bons momentos, mas que se constrói e solidifica precisamente nos mais difíceis, onde são necessárias soluções de risco e onde é preciso pensar mais além, colocando o bem colectivo à frente do nosso único e exclusivo umbigo. Porque só esse esforço poderá representar um futuro em comum assente nas mesmas premissas que estão mais do que nunca colocadas em causa. É isso que nos diferencia de Países como a China, a Rússia ou os Estados Unidos. Foi isso que determinou a sua criação. Sempre foi esse o seu verdadeiro propósito. A nossa génese assente na Paz, na Partilha e na Solidariedade. Se nos afastarmos dela numa altura de fartura, dirão simplesmente que não resultou ou que se escolheram caminhos diferentes, se nos desentendermos numa época tão difícil, se não soubermos ultrapassar obstáculos quando é tão fundamental estarmos unidos então todos apontarão o dedo ao fracasso europeu e a história não deixará de julgar os seus dirigentes máximos.
Por isso, Ursula von der Leyen foi tão clara no seu discurso. Apontando aquilo que terá que ser entendido como uma “lição global” e como devemos aprender com ela vincando o caracter decisivo da forma como saberemos construir pontes e desenvolver consensos no meio de interesses muitas vezes tão díspares. “Este é o momento para a Europa liderar o caminho e sair desta fragilidade para a vitalidade”. E sem querer ser um profeta da desgraça arrisco-me mesmo a dizer que não haverá nova oportunidade. É sem dúvida altura de a UE inaugurar um novo caminho rumo à recuperação económica. Mas uma recuperação que tenha em conta uma Economia Humana. Que demonstre efectivamente o seu propósito solidário e inclusivo e que no meio desta preocupação generalizada não tenhamos a tentação de deixar muitos para trás com a única e exclusiva obsessão de salvar a nossa pele e a dos que nos são mais próximos.
Disse a presidente da Comissão Europeia que “o actual contexto levou também à redescoberta dos valores comuns europeus: cujos indivíduos foram obrigados a sacrificar a liberdade individual em prol da segurança e da saúde de todos.” Esperemos que assim seja e que possamos dar provas de uma enorme maturidade apoiando as pessoas e a revitalização das empresas. Percebendo que o investimento na área da Saúde (nos serviços e na investigação) é fulcral para o desenvolvimento da nossa sociedade e que numa altura crítica como esta não devemos esperar que seja o mercado a resolver mas sim o Estado. É aliás para isso que ele existe. O tempo da União Europeia é agora e todos nós devemos ser parte activa da intransigente defesa dos nosso direitos enquanto cidadãos. É, no entanto, fundamental que se preparem mecanismos de monitorização das chamadas “bazucas” que serão entregues aos países. Será o seu bom (ou mau) emprego que determinará a sorte dos países nos próximos (vá, para ser simpático) 20 anos.
P.S. Saibamos neste caminho de reconstrução incluir as necessidades dos países africanos com especial ênfase para os de Língua Portuguesa. Não os podemos abandonar nesta altura e é tempo de desenvolvermos uma política comum orientada para um futuro partilhado. Já era tempo.