Falar verdade
Pacto para a recuperação dispensa espertezas. A Região precisa de todos
Este é um tempo em que a cooperação é bem mais necessária do que a má-língua ruidosa, mas inconsequente. Até porque ninguém está imune ao colapso. Daí que, num contexto transversalmente adverso e sem excepções geográficas, urge que cada um conheça melhor a sua missão na sociedade - nem sempre bem definida dada a incompetência de alguns e as espertezas de outros -, que desempenhe com eficácia a sua tarefa específica e que cultive sem extremismos o sentido de pertença a uma Região que perde tempo e recursos em comparações abusivas com outros territórios, em manias superioridade e em contenciosos lesivos, mas que tem os seus méritos, o maior dos quais ditado pela natureza que em parte alguns estragaram e que não está a salvo de outros apetites selvagens.
Ninguém está dispensado de falar verdade. Nem governos, nem oposições. Sob pena de, ao abrigo do engano colectivo, com fins meramente eleitoralistas, os promotores do logro ficarem a rir, pois ganharão dividendos pessoais ou tribais, enquanto a imensa maioria fica a perder. E pelo que se tem lido, ouvido e visto nem todos estão focados no importante e inclusivo pacto para a recuperação. Há quem se ponha de fora. Há em seja empurrado para as margens da retoma. Há quem desista precocemente da luta pela dignidade humana. Uma desilusão.
Ninguém devia tirar dividendos da crise em curso, seja pela propaganda enganosa do que tem sido feito na salvaguarda de postos de trabalho que, entretanto, foram extintos ou suspensos, seja pela crítica desonesta aos que muito fazem para evitar o caos. É deprimente assistirmos a trocas de argumentos que nem resolvem dramas sociais, nem dão esperança aos resilientes. É preocupante constatar a deriva na definição de prioridades e a crescente fulanização do combate político. É redutor jogar uns contra os outros só porque até final do ano há três congressos partidários e em 2021 há Presidenciais e Autárquicas. O poder de proximidade e promotor da cidadania não se esgota nessa luta de galos. A democracia participativa merece mais consideração.
Ninguém de valor, de bom senso e de cadastro limpo está impedido de submeter-se a votos. Começa a ser tradição ter candidatos madeirenses na disputa presidencial e há de novo quem tenha tamanho propósito em mente. Avancem os que forem capazes de apresentar discurso consistente, postura de Estado e empenho na unidade nacional, sem envergonhar o povo que lhes deu palco. Cá estaremos para dar expressão à ousadia.
Ninguém está dispensado de ser criativo e de pôr as ideias inovadoras, a dinâmica empreendedora e a solidariedade despretensiosa ao serviço da comunidade. Este é um tempo que precisa de gente com visão altruísta e capacidade de dar resposta às novas exigências, muitas das quais bem distintas daquelas que nos desafiavam em cada dia antes da pandemia. Hoje, mais do que luxos e mordomias, mais do que extravagâncias e caprichos, mais do que ter e ostentar, importa cultivar uma outra forma de ser.
Ninguém está livre de ficar infectado. Por isso, a obediência às regras sanitárias definidas - presume-se por quem sabe - , a paciência para aprendizagem de novos hábitos e o rigor na partilha da informação são elementares para que a vida não pare enquanto não chega a vacina ou o remédio. Tudo pode ser diferente se evitarmos ajuntamentos desnecessários, tivermos cuidados redobrados de higiene e formos compulsivamente responsáveis uns pelos outros. Neste particular, quem mais fala pouco diz. Poupem-nos por isso a discursos cheios de nada, à redundante justificação que o futuro depende da evolução do quadro pandémico e a promessas que passam ao lado da solução.
Ninguém quer o vazio. Exigem-se governos focados nas pessoas, oposições comprometidas com o essencial e uma sociedade cooperante, mais do que obediente, capaz de executar com mestria, de escrutinar todas as frentes e de ter sentido crítico.