E o Tico e o Teco bloquearam…
Não sou fã do secretário da Saúde e penso que o sentimento é recíproco. Mas depois de duas viagens recentes tenho de lhe perguntar se há algum cabimento num questionário de perguntas obrigatórias que chega três dias antes da viagem, quando ainda nem fiz as malas para regressar, a querer saber se eu gostei das férias… na Madeira.
Se o Tico e o Teco já estavam em pulgas, imaginem receber um rol de questões sem qualquer ligação, que duvido que o senhor tenha visto antes de sair. Se eu respondo, com caráter obrigatório, que sou residente local (mesmo que não perceba a palavra local, se sou residente, sou residente, ponto) perguntam-me, logo depois, “quais destas fontes de informação considera mais importantes quando decidiu viajar para a Madeira”. Eu podia responder, entre outras, os media (TV, revistas) ou media sociais (instagram, facebook, etc.)
O primeiro nó no meu pequeno cérebro já estava dado. Qual foi a parte de sou residente que não ficou clara? Porque é que me obrigam a responder a um questionário sem perguntas encadeadas e de exclusão, como se vê até no Ensino Básico? E depois, também sou obrigada a responder “quais foram as suas principais motivações para viajar para a Madeira”. Podia escolher entre o Sol/Praia, Tratamentos de saúde/Wellness, Descanso/Recreativas, Natureza/desporto, Cultura, Visitar família/amigos e, por último, Trabalho. Bloqueei, mas como tinha uma ida à Barreirinha marcada com uma amiga, optei pela primeira escolha, que me pareceu a mais óbvia.
Não acredito que o secretário tenha lido o questionário antes de o mesmo circular mas, mesmo não sendo admiradora, reconheço que as medidas de segurança para a Covid estão bem implementadas no terreno. Não percebo é porque é que a enfermeira que apanhei desta vez fez o mesmo exame com uma suavidade tal que me fez querer torcer o pescoço do enfermeiro do mês passado, que tentou uma lavagem de estômago com a zaragatoa.
Agora a parte íntima: a pergunta “qual é o seu género?”, tinha várias escolhas: Mulher, Homem e, pasme-se “Outro (prefiro caracterizar-me de forma distinta)”, ou a simples opção final, “Prefiro não dizer”.
O Tico e o Teco bloquearam para tentar descobrir o que é “prefiro caracterizar-me de forma distinta”. Que coisa, ou é ela ou é ele, mesmo que esteja no corpo errado, como agora é moderno dizer-se. Não há terceiro sexo. Ou vai daqui para lá, ou vem de lá para cá. E eis que o questionário pede “diga-nos o que pensa da sua experiência com a Covid-19”. Entre o discordo totalmente e o concordo plenamente, com perguntas cujas respostas seriam de sim/não, fui dar uma volta e tentar perceber se o homem anda assim tão ocupado que não possa ler uma coisa que foi apresentada como uma obra-prima da literatura de cordel.