Presidente filipino ordena publicamente morte de traficantes de drogas
O Presidente filipino, Rodrigo Duterte, ordenou publicamente ao principal responsável da alfândega do país que atirasse e matasse traficantes de drogas, numa das suas mais contundentes ameaças na campanha contra as drogas, que resultou em milhares de mortos.
Duterte deu a ordem ao comissário da Alfândega, Rey Leonardo Guerrero, durante uma reunião do gabinete sobre a pandemia do novo coronavírus na noite de segunda-feira, que foi transmitida pela televisão.
Guerrero, um general reformado do exército e ex-chefe do Estado-Maior militar, não estava por perto quando Duterte falou sobre o assunto, mas o Presidente disse que se havia encontrado com Guerrero e dois outros oficiais na segunda-feira no palácio presidencial em Manila.
"A droga ainda está a entrar no país pela alfândega", disse Duterte, acrescentando que já havia aprovado o pedido de armas de fogo de Guerrero.
"Eu aprovei a compra de armas de fogo e até agora não matou ninguém? Eu disse-lhe (a Guerrero): Limpe-os", afirmou Duterte.
"Eu disse-lhe diretamente: 'As drogas ainda estão a entrar. Eu gostaria que matasse (...) Eu vou apoiá-lo e não vai ser preso. Se forem drogas, atire e mate. Esse é o acordo'", sublinhou Duterte, sem entrar em mais detalhes.
A campanha antidrogas promovida por Duterte tem sido uma peça central da sua Presidência.
Duterte tem negado veementemente ter autorizado execuções extrajudiciais, mas ameaça repetidamente e abertamente os traficantes de drogas com a morte.
O Presidente e a polícia nacional, que lidera a sua campanha antidrogas, disseram que a maioria dos suspeitos mortos pela polícia haviam ameaçado a vida dos agentes de segurança.
Mais de 5.700 suspeitos de delitos de drogas, na sua maioria pobres, foram mortos sob a repressão antidrogas de Duterte, que alarmou grupos de direitos humanos e os Governos ocidentais, motivando um inquérito a supostos crimes contra a humanidade no Tribunal Criminal Internacional.
Duterte prometeu continuar a repressão contra as drogas nos dois anos que lhe restam no poder.
Os grupos de direitos humanos disseram que as suas investigações mostraram que alguns suspeitos foram mortos sem piedade e que os polícias alteravam as cenas dos crimes e colocavam armas de fogo nas mãos das vítimas para dar a impressão de que tinham enfrentado as forças de ordem.
A polícia disse que os grupos de direitos humanos e os críticos devem apresentar queixas criminais no tribunal se tiverem provas contra os agentes.
Duterte colocou o departamento da alfândega, contaminado pela corrupção, temporariamente sob controlo militar em 2018, depois que dois grandes carregamentos de drogas ilegais passaram pela agência no porto de Manila.
Uma investigação do parlamento sobre como os grandes carregamentos de metanfetamina escaparam do porto rigidamente vigiado terminou com recomendações de acusações contra alguns funcionários da alfândega e reformas internas no departamento de alfândega.