Mudar paradigmas ou fazer tudo igual?
Precisamos de voltar a apostar nos sectores produtivos que possam diminuir a nossa dependência
Esta pandemia que atravessa o mundo veio colocar muitas convicções, científicas e técnicas, em causa, e muitas das pessoas estudiosas das curas para os vírus, ainda não vislumbraram como vamos acabar com aquele que nos anda a rondar e a ceifar muitas vidas por esse mundo além.
Com confinamento ou sem ele, em estado disto e daquilo, a situação não é para brincadeiras e falar de máscaras até parece ridículo. A questão que mais me tem preocupado é se podemos continuar a fazer a mesma coisa que antes, como se nada de especial se estivesse a passar. Como se tivéssemos feito um intervalo e agora abríssemos as portas, tomando algumas precauções e aguentando com o que aí vem, porque a economia não pode parar.
Então, toca a fazer tudo igual. Desinfeta-se, “mal e porcamente”, os locais mais públicos. Nos serviços e nas lojas comerciais, transportes e um pouco mais, temos que usar máscara, mas a sua obrigatoriedade noutros locais fica ao critério pessoal porque não há quem inspecione. É passar nalgumas ruas e ver o amontoado nas esplanadas para perceber do que falo. Contesta-se os eventos culturais exigindo tanta coisa, mas nalguns deles o número de pessoas permitidas, e todas com proteção pessoal, é inferior ao amontoado noutros lugares à frente de toda a gente.
Critica-se a realização da festa do Avante. Eu também acho que, para o bom nome do partido que a realiza, era prudente adiar, até porque muito odioso vai cair-lhe em cima com as infeções que surjam posteriormente à mesma. No entanto, ainda há poucos dias, foi feita uma inauguração, pelo governo regional, onde o número de pessoas, algumas sem qualquer proteção nem distanciamento social, era muito superior ao que está permitido na resolução sobre o estado de calamidade, que foi prolongado pelo mesmo governo regional. Então todos andam a fazer a mesma coisa, durante uma situação que é muito diferente.
Continuar a fazer tudo igual. Fingir que é possível controlar tudo. Não dar o devido valor ao inimigo que mata, sem que ninguém veja, é demasiado grave. É preciso pensar que este mal que ataca o mundo, pelo menos, deveria pôr-nos a pensar naquilo que temos feito de mal e que deveríamos corrigir. Como exemplo, a dependência extrema que a nossa economia tem do exterior. Se tivéssemos apostado mais na nossa subsistência em sectores vitais para sobrevivermos, talvez o nosso País e a nossa Região não estivessem tão aflitos com o decréscimo no turismo.
Na Madeira, desde que eu me lembro, sempre tivemos turismo e soubemos conviver com outros costumes e outras gentes. Mas também tivemos mais fábricas de diversos sectores. Tivemos mais agricultura e mais pesca. Muitos destes sectores foram destruídos para dar lugar a hotéis e mais hotéis, a estradas e a túneis, e alguns poderiam esperar um pouco mais. Enfim, um desenvolvimento que nos colocou agora num beco sem saída. Pelo menos devíamos aproveitar para questionar. Para tentar introduzir algumas mudanças e não ficar à espera que passe, para tornar a fazer as mesmas coisas, da mesma forma. Precisamos de voltar a apostar nos sectores produtivos que possam diminuir a nossa dependência, para podermos viver sem medo de morrer à fome.
Para além das medidas de emergência tomadas para esta fase grave, é preciso introduzir outras mais de fundo, como o Rendimento Básico Incondicional, que irá proteger todas as Pessoas, sem que elas fiquem dependentes da caridadezinha de ninguém. Uma mudança de paradigmas urgente. Sem esta medida de fundo, o restante limita-se a manter tudo como estava. E como estava, estava mal.