Itália facilita uso de pílula para interrupção de gravidez
Até agora, as mulheres que quisessem fazê-lo tinham de dar entrada no hospital e por lá ficarem internadas por três dias
O governo de Itália decidiu facilitar as condições de utilização da pílula para interrupção da gravidez, permitindo o seu uso sem necessidade de hospitalização, anunciou este sábado o diário italiano La Repubblica.
Segundo a informação exclusiva do jornal de centro-esquerda, as novas recomendações do Ministério da Saúde permitirão às mulheres que queiram abortar recorrer à pílula RU486 em ambulatório, quando até agora eram recomendados três dias de hospitalização.
Interrogado pelo La Repubblica, o ministro da Saúde, Roberto Speranza, defendeu a sua opção: "Os argumentos científicos são muito claros. O Conselho Superior da Saúde e as sociedades de ginecologia e obstetrícia deram parecer favorável. Estas novas recomendações representam um avanço importante".
Em Itália, país de tradição católica, o recurso ao aborto, legalizado em 1978, é complicado devido a 70% dos ginecologistas invocarem objeção de consciência para não realizarem a interrupção voluntária da gravidez (IVG).
A pílula abortiva representa atualmente 20% das IVG, sendo o método cirúrgico o mais difundido.
Esta decisão permite ainda acabar com as disparidades entre as regiões que, em Itália, são responsáveis pela saúde.
Em julho, surgiu uma polémica quando a presidente da região da Úmbria (centro), Donatella Tesei, membro da Liga (extrema-direita), proibiu o recurso à pílula abortiva sem hospitalização. A decisão, criticada pelos partidos de esquerda e intelectuais como Roberto Saviano, levou milhares de mulheres em protesto às ruas.
A medida do governo de facilitar o recurso à RU486 já suscitou numerosas reações.
O jornal da Conferência Episcopal italiana, Avvenire, denunciou "um anúncio surpresa, feito apenas ao La Repubblica", que "abre caminho ao aborto farmacológico ao domicílio".
O Partido Democrático (PD, centro-esquerda, no poder) saudou uma decisão "justa" a favor do "aborto farmacológico, seguro e menos invasivo que por via cirúrgica", enquanto o partido Irmãos de Itália (extrema-direita) criticou "uma decisão absurda e perigosa".
Em 2018, último ano com dados disponíveis, registaram-se em Itália 76.328 IVG, menos 5,5% do que em 2017 e muito longe das 234.801 realizadas em 1983.