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Avante, camarada, avante

Estou confusa. O Tico e o Teco brigam desalmadamente dentro do meu cérebro, ou o que restou dele depois da zaragatoa que fiz há dias no Aeroporto da Madeira. Juro que senti tirarem um bom bocado de massa cinzenta quanto me enfiaram aquele cotonete XL nas narinas. Talvez eu seja piegas e me queixe de uma dor insignificante, mas a mim pareceu o fim do mundo.

Sinceramente, já que estamos em época de coligação, acho que podiam pedir uma ajudinha ao camarada Leonel, ao camarada Lume e ao grande camarada Edgar. Eles têm experiência nestas coisas de ajuntamentos e até vão estar com cem mil camaradas, sem lhes tocar, na festa deles no mesmo fim de semana da Festa da Flor. E entendem de distanciamentos sociais, (a julgar pelas últimas eleições o povo até se distanciou deles, pois passaram de 5,5% para 1,8%).

Alguém que me explique, de uma vez por todas, porque é que se pode fazer a Festa do Avante e não se pode fazer o arraial do Loreto, da Ponta Delgada e a meia-maratona da Ponte 25 de Abril, ou vou ficar a pensar que o país é governado pelo Jerónimo.

Alguém que me explique, como se eu fosse mais burra ainda do que o normal, como é que não se tem coragem para deixar cair pseudo-cartazes turísticos que já todos sabemos que tiveram melhores dias e que estão nos cuidados paliativos há vários anos, só porque alguém acredita que ainda mexe com a economia da Madeira. Cresci a ver ralis e quando há muitos anos comecei a escrever, foi neste diário que fiz a cobertura de três edições do “Vinho Madeira”. Dava gozo. Éramos três e não dávamos para as encomendas. Não nos cansávamos de entrevistar os homens e até algumas mulheres que vinham discutir nesta prova os títulos europeus, os nacionais, os que vinham revalidar créditos firmados em edições anteriores. Aquela festa do rali que levava milhares de madeirenses à serra para acampar, ver os treinos, viver o momento único que o ano nos dava e para o qual centenas de pessoas marcavam férias propositadamente.

A prova foi também uma pioneira no distanciamento social. Distanciamento dos pilotos, das equipas, do público, muito antes da máscara e do Covid. E enquanto os camaradas rumam à Quinta da Atalaia para a festa onde cem mil almas não se vão tocar, por estes lados tenta-se explicar às velhinhas que este ano a procissão passa a mais de cem quilómetros por hora, mas não leva padre, nem andor. De qualquer forma, se quiserem, podem ir sentar-se sozinhas, por causa do tal distanciamento, na porta de casa, de vela acesa na mão, mas com máscara, não vá o piloto espirrar quando passar a alta velocidade, dentro do carro, com a cabeça enfiada no capacete.

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