Há 30 anos
Era domingo e fazia sol. O centro da cidade movimentava-se de forma visível. Era a missa nova de um filho da terra, filho de um pescador regressado de Angola com toda a família, após o 25 de abril. Tornara-se sacerdote e por isso Machico estava em festa, algo parecido com o que se passou domingo último, 2 de agosto, com o mesmo sacerdote, agora Cardeal da Igreja Católica.
Mas há coincidências que não lembram ao diabo. Entre outras coisas originais, na grande festa de domingo passado, houve um pormenor que deu nas vistas: os promotores do evento deram lugar de primeira fila ao presidente do primeiro órgão do poder autonómico, a Assembleia Regional da Madeira. Quanto ao presidente do poder local, a Câmara Municipal, esqueceram-se dele, não havia assento destinado. Ficou de pé, a um canto da igreja. Razão: nem o pároco nem os confrades do Santíssimo Sacramento o convidaram. Por isso, foi lindo, muito lindo, ouvir da boca do jovem Cardeal Tolentino a referência ao “Senhor presidente da Câmara Municipal, que está ali naquele cantinho”. Uma salva de palmas coroou esse gesto tão simpático.
Voltemos ao primeiro domingo de agosto de há 30 anos. A mesma festa, a mesma animação e os mesmos pormenores, com as autoridades regionais em primeira fila. Muita gente na igreja voltava a cabeça a ver quando aparecia o presidente da Câmara. Mas ele nunca apareceu. No final, alguém quis saber a razão: o presidente do Município não foi convidado para a sua missa nova. Quem era o presidente? José Martins Júnior, também sacerdote, também filho de pescador, também residente no mesmo sítio e freguesia.
Domingo passado, quando vimos o octogenário Padre Martins Júnior aproximar-se para felicitar o jovem Cardeal Mendonça e ouvimos os aplausos do público presente, lembrámo-nos de 1990 e dissemos cá para dentro: coincidências religiosas em Machico. Machico, terra de surpresas e originalidades.
M. Carvalho