Ação de graças com Mónica, Agostinho e João Batista
Os últimos dias de agosto estão sinalizados pelas festas de Santa Mónica, Santo Agostinho e o martírio de S. João Batista. Mónica, mulher e mãe orante, diz-nos que a oração vai do pedir sentido de vida ao agradecer. O filho narra a mensagem dos últimos dias de vida terrena da mãe: agora que obtive que fosses “um cristão católico” já não preciso de pedir para viver mais. Alguns podem divagar que orar a pedir graças e milagres será crendice. Mónica seria beata ignorante. A autonomia de Deus, dos seres criados por Ele e das leis científicas fariam da oração passatempo e devaneio; e vazia a função do gabinete médico-científico de Lurdes que analisa os efeitos biológicos dos milagres obtidos com oração. A oração não poderá intrometer-se na autonomia das leis da natureza e na liberdade das pessoas, dizem. A Palavra da Bíblia, a de Jesus no Evangelho, as fórmulas da liturgia, a vida e palavras dos santos do calendário da Igreja, seriam apenas modos de falar da oração. Os efeitos desta são de meros placebos subjetivos. Claro, a oração de Mónica não dispensou a do filho Agostinho, que experimentava, como toda a gente, duas vontade e liberdades, a do sim e do não, ao bem e ao mal. Agradecer a Deus os efeitos da oração será fórmula vazia ou são insensatez os cientismos da pós verdade? Como ia dizendo, tinha decidido que agosto seria mês de ação de graças ao Dador de todos os bens, a Nossa Senhora e àqueles que interagem e interagiram em comunhão de oração, bens e ajudas nas relação do viver pessoal. Se os eventos e celebrações foram muitos, os parabém dizentes, muito mais. Agradecer o quê? O acolhimento que esta Casa de Saúde S. João de Deus, de 96 anos, me deu em 13 anos, a vinda à luz do meu livro interativo de quarentena, os 60 anos de sacerdote, a memória das missas novas em tempo de Assunção, os 78 anos da entrada na Escola apostólica da Ordem de S. João de Deus e os 91 de vida. Mês de muitos obrigados e graças ao Senhor, com centenas de acompanhantes de memória, celebração, oração e de obrigados, sem fim. A tantos eus, de coração, agora mais um obrigado orante; aos de longe e de perto. São muitos? Ainda bem. As palavras de Santo Agostinho, nas Confissões autobiográficas, (que narrativa de vida!), sobre sua mãe, reafirmam o valor da oração como sentido de vida e razão de orar por mais vida terrena. Pedir mais saúde e mais anos de vida, está intimamente ligada aos planos de Deus e ao viver para uma missão. Realizar boas ações de missão explícita pode ser razão para pedir mais vida terrena. Santo Agostinho exprime esta razão de sua mãe: «já se acabou toda esperança terrena. Por um só motivo eu desejava prolongar a vida nesta terra: ver-te católico antes de eu morrer. Deus me satisfez amplamente, porque te vejo desprezar a felicidade terrena, para servi-lo. Por isso, o que é que estou fazendo aqui?» E falaram do êxtase do Céu e do seu funeral porque Deus a chamava (cf. Confissões, liv. 9,10). Santo Agostinho, sim, ia ter necessidade de longa vida para servir o Senhor: vivera a devassidão do seu tempo, a derrocada do Império Romano, assaltos dos bárbaros e o caos do pensar. Tinha feito chorar a mãe por desmandos de rapaz, uniões de facto, heresia, maniqueísmo, arianismo, agora desejava descansar no serviço de Deus. Batizado, renuncia à cátedra de retória (de «mentiras»), é ordenado sacerdote, feito bispo, decide ser monge fundador, abraça missão de teólogo da Igreja, distinta do mundo pagão herético (a Cidade de Deus). Tempos como o nosso, afinal: ideologias decadentes a teimarem justificar e repetir os cerca de 20 mil vítimas dos nazis, 100 mil dos comunistas. Tempo de relativismos e multiculturalismos insensatos; de indiferença de corações de pedra, tráfico de humanos: Ocidente apóstata, paganizado, corrupto, mas Igreja de mártires e de batizados à procura da fé católica em Jesus Cristo e de muitos “não praticantes”, parados na inércia. Mónica, Agostinho e João Batista, luminares de oração e testemunho cristão para um mundo pós verdade em tempos de pandemia.
Aires Gameiro