Saudades da ‘silly season’
O mais próximo que encontrámos foi o ensaio de aproximação feito por Albuquerque ao Chega
1. A covid-19 operou uma autêntica revolução na nossa forma de viver e de estarmos em sociedade. O medo está lá e o sobressalto surge quando novos casos são anunciados. A imprevisibilidade do vírus é terrível e coloca-nos reféns da sua vontade, por mais que cumpramos com todas as recomendações. Ninguém consegue viver o tempo todo isolado e muitos preferirão morrer da doença do que privados da convivência mínima. Por sermos ilhas não estamos imunes à covid-19, como provam os novos casos detectados durante a semana. O ‘mal’ não acontece só aos outros, por isso todo o cuidado é pouco. Não facilitemos a propagação, cumprindo as regras básicas em vigor e evitando comportamentos de risco. Esteve bem o Governo Regional em prorrogar a situação de calamidade na Região. Não nos iludamos, saúde e economia vão estar no centro de todas as questões nos próximos tempos. Saiba a classe política trata-los com a elevação que se impõe.
2. Agosto era o mês das férias, do descanso, do afastamento do quotidiano preenchido por um sem número de obrigações. Agosto era também o mês em que os políticos nos davam um intervalo higiénico da sua frenética e nem sempre produtiva actividade. Era o mês mais ‘estúpido’ do ano, em que ficávamos a saber os destinos preferidos e os livros que governantes, deputados e dirigentes partidários levavam na bagagem para umas férias quase sempre à beira-mar. As entrevistas imprevistas na praia arrancaram-nos umas gargalhadas. Este ano nada disso aconteceu e o mês mais idiota do ano termina vazio de ideias e de futuro, por diversos motivos de que nem só a covid-19 é culpada. O mais próximo que encontrámos foi o ensaio de aproximação feito por Miguel Albuquerque ao Chega. Mas nem essa diatribe nos conseguiu arrancar um sorriso, de tão imprevista, desenquadrada e pateta que é. Que espera o maior partido da Região na aproximação a uma agremiação frequentada por pessoas que professam ideologias que nada têm a ver com os valores democráticos conquistados em Abril e capitaneados por um pseudo-justiceiro que se vangloria por ser recebido por líderes fascistas europeus? O CDS que se erga porque as próximas eleições têm tudo para lhe correr mal, tal o estado de deslumbramento demonstrado pelos cargos da administração pública que o fez esquecer de todos os males perpetrados pelo poder exercido pelo PSD, ainda recentemente.
Nesta realidade pouco condizente com a verdadeira ‘silly season’, o líder do principal partido da oposição eclipsou-se, deixando a porta aberta para que o ex-líder se chegasse à frente. Chegou-se e até apresentou propostas para a Madeira, tendo enviado uma carta ao primeiro-ministro, com ideias para o futuro da Região. Onde tem andado Paulo Cafôfo? Ou assume a liderança de uma vez, com determinação, ou vai acabar por ser obliterado pelos seus camaradas e, depois, pelo eleitorado. Assim, não chega lá.
Perante este cenário cinzento a contrastar com as altas temperaturas do ar, quase apetece a ter saudades da incendiária ‘Universidade de Verão’ montada na tasca do Henrique, no Porto Santo, nos idos de 90.
3. Entretanto e voltando à (dura) realidade a vida de muitos anda para trás e não para a frente, como atestam os números que mostram o aumento da pobreza na Região. O Centro de Apoio ao Sem Abrigo, por exemplo, já veio a público solicitar ajuda, porque há cada vez mais gente a pedir auxílio e os alimentos não têm chegado para todos. Os números dos que dependem do RSI também não param de aumentar. Mas estes são indicadores que os políticos não gostam de ler em período de pausa.