Turismo

Portos vão continuar fechados aos cruzeiros pelo menos até 15 de Agosto

Principal associação da indústria (CLIA) prevê que cada dia em que os navios não retomam a actividade, perdem-se 2.500 postos de trabalho. Um sector que, anualmente gera mais de 127 mil milhões de euros e que dá trabalho, directa e indirectamente, a 1,17 milhões de pessoas

A Resolução n.º 509/2020, publicada no Jornal Oficial da Região Autónoma da Madeira de 8 de Julho, "autoriza a acostagem e a utilização de marinas, portos e fundeadouros na Região, para todo o tipo de embarcações, excepto para navios de cruzeiro e devido à situação de calamidade, os passageiros e tripulantes que queiram embarcar e desembarcar para terra, não podem registar sintomas característicos da COVID-19 e/ou febre". Ou seja, determina, implicitamente, que os navios de cruzeiros ainda não são 'bem vindos' à Madeira.

O que agora veio determinar o Governo da Repúlica é que desde as zero horas do dia 1 de Agosto e, pelo menos, até às 23h59 do dia 15 de Agosto  bem como as posteriores prorrogações, justificam-se "como medida de contenção das possíveis linhas de contágio, de modo a controlar a disseminação do vírus SARS-CoV-2 e da doença COVID-19, sendo que a situação epidemiológica, quer em Portugal, quer noutros países, continua a não se mostrar plenamente controlada", acrescentando ainda que "a experiência internacional demonstra o elevado risco decorrente do desembarque de passageiros e tripulações dos navios de cruzeiro".

Ora, perante o despacho do Governo da República da passada sexta-feira, 31 de Julho, que "mantém a interdição do desembarque e licenças para terra de passageiros e tripulações dos navios de cruzeiro nos portos nacionais" por mais duas semanas, mas que até pode ir mais além, com as tais novas prorrogações, fica a certeza que o sector completará meio ano a zeros.

Recentemente a Cruise Lines International Association (CLIA), que representa a maioria das companhias de cruzeiro, apelou às suas associadas para que retomem a actividade apenas a partir de 15 de Setembro. E é precisamente para três dias depois, a 18 de Setembro, que a Administração dos Portos da Madeira tem (ainda) a primeira escala agendada, do pequeno navio expedicionário 'Hebridean Sky', com capacidade para 120 passageiros.

Caso se confirme esta escala - a seguinte poderá ser o 'Costa Favolosa', a 26 - ter-se-ão passado mais de 6 meses após a última atracagem no Porto do Funchal. Lisboa, por exemplo, poderá receber o primeiro navio, precisamente um com registo no MAR, o 'World Voyager', a 23 de Agosto, que seguiria depois para Portimão. No entanto, dado o estado da indústria no momento actual - com retoma a conta gotas, sobretudo devido às restrições nos portos, mas muito por culpa dos cancelamentos já ao ponto de afectar a actividade das companhias -, é incerto efectivamente para quando a Madeira voltará a ver dias de movimento como estava habituado o Porto do Funchal. Sobretudo porque a época alta começará em Outubro e há 24 escalas ainda no site da APRAM para esse mês (mais 4 escalas no Porto Santo).

Feitas as contas e a esta altura, se os meses passados sem escalas já são negativos, Outubro de 2020 deverá ser, no mínimo, o pior da última década em termos de escalas no Porto do Funchal. Quiçá os meses que se seguem poderão seguir na mesma linha, mas tudo dependerá do rumo da pandemia na Madeira e em Portugal, que poderiam obrigar a manter os portos interditos, e no Mundo, pois a indústria vê-se a braços com o dilema de retomar cedo demais.

Aliás, ainda ontem foi notícia um navio de cruzeiro de expedições (ver link) que conta já com 36 casos positivos a bordo, tendo este segmento sido dos primeiros a retomar a actividade.

Voltando às previsões para a indústria, a CLIA prevê que cada dia em que os navios não retomam a actividade, perdem-se 2.500 postos de trabalho. Um sector que, anualmente gera mais de 150 mil milhões de dólares (127 mil milhões de euros) e que dá trabalho, directa e indirectamente, a 1,17 milhões de pessoas, atravessa uma crise gigantesca e inesperada, ao ponto da maior de todas, a Carnival Corporation, ter anunciado que irá mandar para a 'reforma antecipada' seis dos seus navios, num total de 13 (cerca de 9% da sua frota) que sairão do seu portefólio, sendo mais de metade para venda por já estarem ultrapassados em termos de eficiência.

O mais recente foi o 'Costa Victoria', mas a lista cresce a cada semana sem actividade consistente. O 'Marella Celebration' foi o primeiro e seguem-se vários outros que poderão acabar na sucata, casos do 'Monarch', 'Sovereign' e 'Horizon'. Alguns destes estavam ou iam entrar ao serviço da Cruise & Maritime Voyages (CMV) que, por causa da crise provocada pela covid-19, está em processo de insolvência. 'Pacific Aria', 'Pacific Dawn', 'Marco Polo', 'Magellan', 'Astoria' (ex-'Azores'), 'Astor', 'Vasco da Gama', 'Columbus', alguns destes já com várias passagens pelo Porto do Funchal ao longo dos anos e sob outras desginações e marcas, poderão mesmo ser desmantelados. O 'Carnival Fascination' e 'Carnival Imagination' deverão sofrer remodelações mas sem data prevista.

A ideia (vide este link) passa por antecipar vendas e desmantelamentos já previstos e, assim, recomeçar com os próximos navios, cada vez maiores, com mais capacidade e mais 'amigos do ambiente' (movidos a gás natural).