O regresso dos ingleses
O que temos que perceber neste momento é que os turistas vão regressar e vão regressar em força
Foi de impacto imediato. Assim que saímos da lista negra dos corredores aéreos do Reino Unido, a marcação de viagens para Portugal aumentou mais de 700%. E segundo um estudo sobre a matéria, não foi pela falta de confiança no mercado português que a maioria dos britânicos se mantiveram longe do nosso País. Foi sim pela obrigatoriedade de cumprir uma quarentena no regresso, o que no caso dos trabalhadores lhes elevava o número de dias ausentes do trabalho de uma forma incomportável e sujeito a sanções severas da respetiva entidade patronal. Restrições abolidas foi um correr em massa para as tão desejadas férias. Não deixa de ser fantástica esta ligação que existe e o quanto eles gostam efetivamente do nosso cantinho. Muitos, decidiram inclusivamente adiar as suas férias, não escolhendo um local alternativo à espera que fosse possível viajar sem as regras anteriormente impostas.
Esta onda de euforia leva-nos para a discussão de vários pontos que me parecem relevantes. Em primeiro lugar é preciso ter consciência de que foi o regresso pouco controlado do turismo de massas em locais de Espanha, Croácia e Grécia que fez disparar novamente os números nestes países. Infelizmente muita gente ainda não percebe que estar de férias não é compatível nos dias que correm com fazer tudo o que bem lhes apetece e foi possível encontrar de tudo, locais onde as pessoas entravam sem máscaras, grandes ajuntamentos, festas descontroladas, bares sem limite horário ou lotação limitada e buffets nos pequenos almoços dos hotéis em que tudo parecia normal e onde toda a gente tocava no que queria e deixava no sítio sem proteção ou desinfeção. Esse desespero pela importância que representa o Turismo nos Pib´s fez com que esses mesmos Países tivessem que mentir descaradamente para não criar o pânico na população.
Por outro lado temos a perfeita noção, de que o Turismo é também para nós fator fundamental de crescimento e que sem ele esta crise que aí vem será seguramente muito mais dolorosa. Há ainda a convicção profunda e generalizada na opinião mundial que Portugal continua na moda, que nada mudou nas intenções dos milhões de interessados em nos conhecer, que a concretização desse interesse apenas foi atrasada mas que a vontade de vir mantém-se, até porque, se por um lado por uma questão política fomos considerados um País pouco seguro aos olhos de vários Governos (a este facto não é alheia a nossa continuada persistência nos testes) a verdade é que a nossa imagem de segurança neste momento permanece intacta e quando comparados com a nossa vizinha Espanha parecemos o povo mais responsável e consciente do Mundo.
O que temos que perceber neste momento é que os turistas vão regressar e vão regressar em força, já se notando aliás nas reservas para o Algarve e Lisboa. Isso nunca compensará o Verão perdido mas poderá ser um balão de oxigénio em meses que são tradicionalmente mais fracos e em que se antevia já o desaguar da desgraça. Temos por isso enormes desafios pela frente. Encontrar um equilíbrio entre o regresso dos turistas e o compromisso que teremos que ter na proteção dos nossos cidadãos será a chave para este enigmático labirinto. A tão propalada economia versus saúde. Sem saúde não se vive mas sem economia as condições de saude tornam-se precárias. Já sabemos (até pelos exemplos que nos chegam de outros destinos) que quando eles vêm não se querem preocupar com muitas regras. E nós não podemos parar sob pena da crise ser ainda mais profunda. Mas teremos que saber ser rigorosos para que o trabalho feito não se perca. É bom não esquecer que continuamos com uma das populações mais envelhecidas da Europa e por isso mesmo das mais expostas às consequências fatais da doença. Seja ela qual for. Que regressem mas que se cumpram as regras e que essa tendência que temos para ser subservientes com os de fora se altere. Para bem de todos…