Há que voltar a Bruxelas
Ao contrário de António Costa, Soares e Guterres eram estadistas. O primeiro quer guerra com a Madeira, os outros dois reconheceram e conviveram com o nosso sucesso
Os próximos anos vão ser marcados pelas disponibilidades financeiras que chegarão da Europa via Lisboa. Este funil português centralista, imposto por Cavaco Silva, retirou autonomia à negociação directa da Madeira com Bruxelas impondo uma redistribuição nacional dos milhões e milhões que Portugal recebe para desenvolvimento regional.
No limite, por vontade de Lisboa, pode nada chegar à Madeira. E os tempos não são para esperar por muita vontade de nos ajudarem.
Alberto João Jardim conseguia praticamente tudo dos governos de Mário Soares e António Guterres. Já Miguel Albuquerque quase nada obtém de António Costa. A diferença não está nos governantes madeirenses mas na atitude dos líderes nacionais do Partido Socialista. Desde logo Soares e Guterres eram estadistas enquanto Costa já não tem qualquer dimensão política. Mas não é só isso. Soares e Guterres reconheciam que Jardim era imbatível em eleições. Era preferível colher simpatias sendo justos para com as pretensões regionais: o PS perdia as eleições de qualquer maneira mas sempre evitava estigmas para o futuro. Ainda por cima, a sua cúpula na Madeira, era tão amadora que fazia convívio com a “malta” do PSD. São inesquecíveis os brindes de Emanuel Jardim Fernandes com Jardim. Com cerveja como é óbvio. Um forrobodó que baralhava a sede partidária do PS em Lisboa e os fazia desistir de qualquer esperança de vitória eleitoral. São memoráveis os elogios de Mário Soares a Jardim e à sua governação.
Agora, vivemos uma realidade política distinta ainda que Miguel Albuquerque e o PSD continuem governantes com sucesso eleitoral. Acontece é que António Costa está convencido, ou daqui erradamente o convenceram, de que o PS pode ganhar eleições legislativas. Neste pressuposto António Costa tudo faz para dificultar a governação do PSD Madeira e de Albuquerque acreditando que com isso aumenta as hipóteses futuras de sucesso socialista.
O escândalo principal é que a pomposa visão estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal, liderado por um tal António Costa e Silva despreza por completo a Madeira e o Porto Santo. Só posso pensar que foram ordens políticas de António Costa. Um idiota qualquer minimamente competente não ignoraria o papel estratégico da nossa Região. É ignóbil tamanho desprezo. Puro separatismo.
Portugal, sem a Madeira e os Açores, vale muito pouco.
Os madeirenses já são suficientemente maduros e sabem ver quanto o governo PS prejudica a Madeira, unicamente por retaliação eleitoral. Viver com um governo socialista deste quilate faz perceber que o nosso aliado principal deve ser Bruxelas. O nosso exemplo de sucesso dentro dos programas de desenvolvimento europeus irão desmascarar e condenar a atitude anti-Madeira do governo de Costa. E retirará credibilidade, se a tem, ao governo de Lisboa perante as instituições europeias. Há que denunciar a falsa simpatia de António Costa.
Tenho para mim que a Madeira foi afastada, por Lisboa, dos canais directos com Bruxelas e a Comissão Europeia, onde a intervenção da Reper (representação diplomática portuguesa nas instituições europeias onde tínhamos alguém nomeado pelo governo regional) se revelava fundamental. O nosso acompanhamento, de tudo o que se passava e era preparado nos bastidores, não cessava noite e dia. Era possível antecipar o que aí vinha e disso não só tirar todo o proveito como reduzir, ou mesmo eliminar, previsíveis impactos negativos.
Mas o que mais me perturba é não ver a visitar o Arquipélago personalidades europeias que melhor nos fiquem a conhecer e, por via disso, saibam interpretar e acolher as nossas pretensões. Até é muito estranho, ou talvez não, que o governo nacional não promova na RAM eventos sectoriais de cariz europeu que proporcionem boa e justificada ocasião para melhor podermos apresentar as temáticas do nosso desenvolvimento.
Aguardo para ver se, na presidência portuguesa da União Europeia, algum evento oficial é realizado na Madeira ou Porto Santo.
É obrigatório ir a Bruxelas convidar e receber os seus principais decisores, até pela ausência de interlocutores solidários em Lisboa. Não sendo assim a vida fica muito difícil.
Com os dois mil milhões de euros a que teremos direito nos próximos anos, é quase como voltar a 1986 quando elaborámos o POP-Madeira - Plano Operacional Plurifundos - até hoje o maior plano de desenvolvimento realizado na Região e que permitiu o acesso, e respectiva execução, aos dinheiros negociados com a então Comunidade Económica Europeia para integração do nosso Arquipélago. Tenho orgulho de ter liderado essa ambição épica. A negociação era directa em Bruxelas, ainda que com pleno acompanhamento da Reper, onde se negociava, todo e cada dia, espaço financeiro para a nossa carteira de projectos. Sabíamos o que exactamente queríamos e precisávamos fazer, tínhamos a aceitação das diferentes instituições europeias que nos recebiam em Bruxelas e frequentemente visitavam a Madeira e Porto Santo. Nunca tivemos um projecto recusado contra as nossas pretensões.
No final desse ciclo fabuloso, tudo de essencial estava feito e não havia dívida. O pior veio a seguir.
Garanto-vos que se as instituições europeias estiverem bem “catequizadas”, relativamente aos assuntos da Madeira, pressionarão Lisboa que não poderá recusar um bom plano regional de desenvolvimento com projectos relevantes. Os responsáveis europeus não suportam desprezo central a quem, na periferia, trabalha de forma dedicada e séria.
Por tudo o que aí vem, e esperamos que se confirme, a Madeira está perante um momento histórico idêntico ao da integração europeia na segunda metade da década de oitenta. Que tem tanto de ambicioso como de decisivo para as próximas gerações.
Para o sucesso desta monumental empreitada precisamos seis coisas:
-um verdadeiro e adequado plano de médio e longo prazo que nos garanta a “benção” e elogio das instituições europeias;
-solidariedade e receptividade do governo de Portugal, em especial da parte dos ministros portugueses dos Negócios Estrangeiros e Planeamento;
-dispor de um pacote de projectos de interesse e qualidade que sejam a garantia de concretização do referido plano de médio prazo, eliminando possíveis atrasos com indefinições e discussões absurdas;
-designar no governo um líder absoluto para esta operação, indispensável ao sucesso da negociação e respectiva execução;
-responsabilidade, por parte da oposição regional, em não dificultar este novo e decisivo plano de desenvolvimento.
Nestes termos é possível partir para mais um tempo de progresso.
Achas do Verão
Foi preciso o COVID-19 para todos colocarem a saúde acima de tudo.
Reedição das ACHAS NA AUTONOMIA merece louvor indiscutível. Não só pelo conteúdo e registo histórico do documento como pela excelência intelectual do seu autor: LUÍS CALISTO.
Todos querem um Chega moderado para acasalar em próximas eleições. Mas será que um Chega moderado vale alguma coisa ?
Marcelo foi ao Porto Santo numa visita de apenas UM dia completo e a suas expensas. Queixou-se do custo do avião. O preço/hora mais elevado de umas férias enquanto político. Um verdadeiro LUXO ir a banhos a PXO por umas horas.
Jardim crítica Rui Rio por “estar a ajudar o PS”, o que é verdade. Será que fui eu a promover e votar em Rui Rio?
Acompanhei o dr. Carlos Lélis, então secretário regional da Educação, à ilha da Sardenha em 1980. Fiquei a saber que eram proibidas obras, públicas ou privadas, durante o verão, para não incomodar os visitantes. Em Porto Santo parece ser o tempo delas. No inverno só chateia os residentes, o que não deve ser considerado justo.
Lopes da Fonseca disse ao Diário que a sua missão “é defender esse projecto (coligação) que os madeirenses quiseram”. Curioso eu não ter visto Coligação no boletim de voto. Nem a sua sigla.
E o referido deputado centrista acrescenta que “as legislaturas deveriam durar mais do que quatro anos”. Quando se está no poder são todos iguais. Agarrados aos lugares. Para o CDS só Alberto João é que estava há demasiado tempo.