Análise

Ilegalidades intoleráveis

Vou de férias e comigo levo algumas preocupações. Mais do que livros e sonhos, tenho os olhos postos no futuro, sobretudo nos domínios abalados pela crise pandémica.

. A promessa fácil. O que vai marcando os dias na ilha são os milhões de euros que quase todo os dias as autoridades regionais fazem questão de prometer para de certa forma atenuar os efeitos da crise. Esta semana ficamos a saber que será criada uma linha de crédito de cinco milhões de euros, com juros bonificados a 100%, para apoiar os sectores agrícola e agroalimentar. Na semana passada, o executivo anunciou três novos apoios que implicam o investimento 28 milhões de euros. Tem sido assim nos últimos meses, mas pelo que se vê e ouve, muito mais será necessário para “pôr a circular dinheiro” já que, como se sabe o verdadeiro motor que é o turismo, está aos soluços, com números que ainda não suficientes, nem animadores. Prometer não custa, nem paga imposto. Esperemos é que o dinheiro chegue sem demoras, burocracias, discriminações ou fraudes.

. A “selvajaria” no Turismo. O tempo é de incerteza, agravado pelas ilegalidades que alguns agentes assumem existir no segmento da animação turística. Há denúncias de casos graves e sem controlo em 70% do negócio e mesmo que a Direcção Regional de Turismo “desconheça”, o certo é que as desigualdades geradas por um sem número de incumprimentos compromete a imagem de seriedade dos profissionais do sector e o equilíbrio natural do mesmo. Talvez um reforço da acção inspectiva, menos conivente e mais surpreendente, possa ter efeitos práticos e pedagógicos.

. O drama do desemprego. Os números já assustam e a fatalidade para milhares de madeirenses é dada como inevitável. Só resta esperar que a dignidade humana nunca seja posta em causa e que no domínio do social sejam criados mecanismos vitais para que ninguém tenha que viver nas margens da sociedade ou seja tentado a experimentar esquemas de sobrevivência, que geralmente anda de mãos com a delinquência e com o crime.

. A sofisticação do crime. Ontem, dois homens e uma mulher foram detidos por suspeita da prática dos crimes de sequestro e roubo agravado. O sequestro era até agora uma prática de outras paragens, que pelos vistos ou foi importada, ou ensinada por quem é perito. Com a globalização, estamos expostos a novas formas de chantagem e de violência. ‘O cantinho do céu’ terá que preparar-se sem complexos, nem xenofobias para o ‘novo normal’ neste domínio, sob pena de ser surpreendido com dimensões nunca vistas no capítulo da criminalidade organizada.

. As ameaças à comunicação social. Algumas vozes assumem estar apreensivas com a imprensa na Madeira. Eu também estou. Porventura por razões diversas dos ‘provedores’, mais focados em denegrir a qualquer custo a informação livre e independente. Preocupa-me, entre outros aspectos, que poucos se interessem com a sustentabilidade financeira das empresas de comunicação em tempo de crise e que a alguma cidadania dita responsável seja cúmplice dos criminosos que, todos os dias, sem pruridos, partilham na íntegra as edições de jornais e revistas em grupos criados para o efeito no WhatsApp e no Telegram, violando assim os direitos de autor. A informação tem valor e a disseminação gratuita de publicações não só contribui para o fim do jornalismo, que é um dos pilares da democracia que importa defender, como acarreta graves prejuízos e põe em risco a manutenção dos postos de trabalho.

Exigimos punição severa a quem rouba e exortamos os leitores e assinantes a cobrar em cada instante pelo que pagam. Só assim seremos todos mais credíveis e rigorosos, mais determinados e capazes de dar cabo da ilegalidade, da corrupção e das manobras de vitimização dos que tentam antecipar desculpas que devem exibir na hora da sentença.

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