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Gostar de fazer A gosto

O tempo não é nosso, não temos a sua posse! Podemos utilizá-lo da melhor forma que nos seja possível mas, uma vez passado, já não é reutilizável. Não há como

6 x 2 = 12

4 x 3 = 12

Resultado igual, parcelas diferentes. É isto importante? Veremos!Tive, desde o 1º ano do Liceu, e em quase todos os anos, até ao 7º ano

(equivalente ao actual 11º, ano de saída do Liceu, ou para a faculdade ou para um trabalho),

um Professor de matemática (Dr. Sérgio Camacho) que, muito para além da matemática, ensinava lógica e, logicamente, a importância de se compreender o que a matemática nos pode transmitir.

Em termos práticos e de uma forma simples, se eu quiser que um paciente tome 1200 mg por dia de uma substância necessária à sua condição clínica, posso prescrever duas tomas de 600 mg de 12 em 12 horas ou três tomas de 400 mg de oito em oito horas, dependendo da concentração plasmática que desejo que se mantenha ao longo das 24 horas, resultando numa toma final das tais 1200 mg, ou seja, a lógica da necessidade associada à lógica da matemática dá-me a possibilidade de avaliar qual o caminho que devo seguir numa determinada circunstância.

A matemática ensina-nos também a trabalhar e compreender as dimensões através de coordenadas que definem o que é uni, bi ou tridimensional ou, se juntarmos a variável tempo, uma multidimensionalidade.

As únicas variáveis que podemos “controlar” são as que não dependem do tempo: podemos encurtar ou alongar uma recta, um círculo, um cubo, podemos desenhar com as três variáveis altura, comprimento e profundidade, dando-lhes perspectivas diferentes, conferindo até um aspecto tridimensional em desenho bidimensional, mas não podemos controlar o tempo. Esse segue sempre em frente, sem olhar para trás, sem qualquer tipo de retrocesso.

O tempo não é nosso, não temos a sua posse! Podemos utilizá-lo da melhor forma que nos seja possível mas, uma vez passado, já não é reutilizável. Não há como.

Esta 4ª dimensão é-nos oferecida para que façamos bom uso dela, enquanto mesclamos o melhor possível todas as outras dimensões que nos acompanham matematicamente, queiramos ou não.

A variável tempo é a única que nos dá opções em termos de lógica. Ao passarmos pelo tempo temos hipóteses de escolha que dependem de factores tanto extrínsecos como intrínsecos de nós como identidade individual. É atravessando o tempo que vamos tomando conhecimentos que vão influenciar o nosso gosto por determinada sensação e que serão determinantes na escolha dos rumos a seguir. Eu vou para medicina, ou engenharia ou outra qualquer escolha porque gosto, e foi o tempo que determinou a possibilidade desse gosto.

“Vou escolher fazer o que gosto”! É para isto que vamos sendo formatados ao longo da infância e juventude, para podermos escolher fazer aquilo de que mais gostamos. Mas aqui entram outras variáveis que são determinantes na escolha dessas opções: as regras para aceder ao que gostaríamos de fazer! E essas regras muitas vezes ditam que não é possível fazer o que gostaríamos de fazer!

Então, a lógica dá outra opção, outro caminho: aprender, com o tempo, a gostar do que nos foi proporcionado fazer pelas vicissitudes da vida, isto é, gostar do que se faz em vez de fazer o que se gosta.

A variável tempo associa-se à lógica e ensina que, mais importante que priorizar a procura pelo que gostaríamos de fazer é aprender a gostar do que se faz, dando assim ao tempo uma possibilidade de, através da sua marcha inexorável, deixar uma marca de satisfação imprescindível para que a sua passagem seja o menos sentida possível.

Mais importante do que fazer o que se gosta é gostar do que se faz, ensinou-me o meu Pai!

Mesmo que estejamos a fazer aquilo de que gostamos, se não o fizermos gostando da forma como estamos fazendo, estaremos, logicamente, somente a ver o tempo passar, esquecendo que, se já passou não repetirá a sua passagem, tornando então a lógica uma batata (ou semilha em termos regionais).

Pôr gosto no que se faz mesmo sem estar particularmente apaixonado por aquilo que se faz pode fazer a diferença nas relações entre humanos de todas as raças e credos!

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