Nossa Senhora do Monte
Sábado, 15 de agosto de 2020, feriado Nacional. Para os crentes da religião católica, este é um dos feriados de maior expressão bíblica, destinado à celebração do dia da Assunção de Nossa Senhora. A minha deslocação até ao Monte neste dia, teve como propósito o regresso a um local emblemático onde, numerosas preces e fervorosas orações dos fiéis se repetem em ocasião da (pouca) festa de N. S. do Monte, Padroeira da Ilha e dos Madeirenses. Apesar de ser feriado, depressa me apercebi e estranhei a ausência de policiamento no local. Ali, o trânsito automóvel fazia-se apenas com a boa compreensão dos condutores, pois este ano não se optou pelo sentido único para subir e a estrada da Corujeira para descer (!). Supostamente a PSP assim não entendeu nem lá estava. À chegada, para aceder ao Largo da Fonte, exactamente onde deveria estar um agente da autoridade, a pintura quase inexistente das barras da passadeira para atravessar a estrada, estavam praticamente invisíveis. Um pouco mais adiante junto à fonte um indivíduo alcoolizado em estado vegetativo e nauseabundo ensombrava ainda mais este dia em ano perfeitamente atípico. Perto dali queimavam-se as velas que davam sentido à fé de um povo constrangido e sem motivos para festejar coisa alguma. Mesmo assim cumpriam-se as promessas sob um céu nublado, e árvores ameaçadoras a exigirem limpezas nas suas copas e cuidados redobrados de disciplina florestal, naquele espaço mediático persistentemente muito igual a outros tempos. Já na Igreja era notável a presença dos fiéis que, disciplinadamente, e tanto quanto possível, circulavam fixando o seu olhar na pequenina Senhora do Monte denunciando a enorme gratidão a Esta, ou simplesmente renovando o seu pedido à Senhora Imaculada. No adro e arredores, algumas aglomerações de pessoas dividiam-se na opinião do uso da máscara. Talvez porque ali o ar fresco do Monte é desejado e, as sandes de carne de vinho e alhos da Casa de Chá da Paróquia dispensam este acessório. Descendo novamente os degraus por entre as frondosas árvores, meditei um pouco sobre o que aconteceu em 2017, sensivelmente duas horas depois de, eu próprio, ter estado no preciso local da queda, daquele fatídico carvalho. Aqui, quero deixar a minha sentida homenagem às vítimas e seus familiares que, ainda hoje sentem a dor da perda dos seus entes queridos. Também hoje, três anos depois, um indesejado vírus remete-nos à nossa pequenez e insignificância, mas, segundo as palavras de D. Nuno Brás – Bispo da Diocese do Funchal – “o facto de ainda não termos tido nenhuma vítima mortal, é um sinal de Nossa Senhora do Monte”.
Vicente Sousa