Irão declara vitória após ONU rejeitar prolongar embargo de armas
O Irão declarou hoje vitória depois de o Conselho de Segurança das Nações Unidas ter rejeitado uma resolução dos EUA para estender o embargo de armas, uma medida que terá repercussões no acordo nuclear iraniano.
Apenas dois dos 15 membros do conselho votaram a favor da resolução na sexta-feira, destacando as divisões entre Washington e seus aliados europeus desde que o presidente Donald Trump se retirou unilateralmente do acordo nuclear com o Irão em maio de 2018.
Teerão regozija-se por Washington não ter conseguido mais do que uma voz de apoio, a da República Dominicana. Todos os aliados europeus de Washington se abstiveram.
Para o presidente iraniano Hassan Rouhani, os Estados Unidos não conseguiram encerrar o que chamou de acordo "meio vivo" de 2015 com as grandes potências que permitiram ao Irão fugir de sanções em troca de uma redução do seu programa nuclear.
"Os Estados Unidos falharam nesta conspiração, humilhados", disse Rohani em conferência de imprensa transmitida pela televisão.
"Na minha opinião, este dia vai ficar na história do nosso país e na história da luta contra a arrogância global", disse.
Segundo o porta-voz dos Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Moussavi, "durante os 75 anos de história das Nações Unidas, a América nunca esteve tão isolada".
"Apesar de todas as viagens, pressões e tráfico de influência, os Estados Unidos só conseguiram mobilizar um pequeno país (para votar) com eles", acrescentou, referindo-se aos esforços do chefe da diplomacia americana liderada por Mike Pompeo para reunir apoio à resolução americana.
Como resultado dessa votação, os Estados Unidos provavelmente tentarão impor unilateralmente um retorno às sanções da ONU, o que poderá levar o Conselho a mergulhar numa das piores crises diplomáticas de sua história, alertam especialistas.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas chumbou na sexta-feira uma proposta de resolução dos EUA que pretendia estender indefinidamente o embargo de armas ao Irão, com apenas a República Dominicana a apoiar os norte-americanos.
A votação dos 15 membros deste órgão da ONU foi dois a favor, dois contra e 11 abstenções, muito longe do mínimo de nove requeridos para uma aprovação.
A Federação Russa e a China, que se opunham à resolução, nem precisaram de usar o seu poder de veto.
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, anunciou a derrota da sua proposta antes mesmo da divulgação dos resultados da votação.
Pompeo disse que Israel e os seis Estados árabes do Golfo, que apoiavam a extensão, "sabem que o Irão vai espalhar ainda mais caos e destruição se o embargo expirar, mas que o Conselho de Segurança escolheu ignorá-los".
O Governo dos EUA tem dito repetidamente que não vai permitir que a disposição sobre o embargo de armas constante da resolução do Conselho de Segurança, que apoia o acordo nuclear alcançado em 2015 entre o Irão e seis potências, expire na data prevista (18 de outubro).
Os EUA saíram do acordo, mas as outras cinco partes -- Alemanha, China, Federação Russa, França e Reino Unido -- permaneceram.
O acordo visa prevenir o desenvolvimento de armas nucleares pelo Irão. Fontes diplomáticas adiantaram que prolongar o embargo de armas pode levar à saída do acordo por parte do Irão e acelerar a sua procura de armas nucleares.
Enquanto a votação estava a ser feita, a representação russa informou que o Presidente russo, Vladimir Putin, apelou para uma reunião dos líderes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, com a Alemanha e o Irão, para evitar uma escalada, a propósito da intenção dos EUA de prolongarem o embargo de armas ao Irão.
Em comunicado divulgado pelo Kremlin, Putin disse que "a questão é urgente", acrescentando que o objetivo da videoconferência seria o de "realçar medidas para evitar confrontos e a exacerbação da situação no Conselho de Segurança da ONU".