Henrique Afonso chegou à 'Reunião' após 36 dias a navegar "dentro de uma máquina de lavar"
'Pirata da Madeira' até brincou com as dificuldades que enfrentou ao longo das 4.200 milhas náuticas que o separavam de Timor-Leste e Ilha da Reunião
Missão 'Oceano Índico' completa. Henrique Afonso, carinhosamente tratado por 'Pirata da Madeira', chegou à Ilha da Reunião na passada quinta-feira - há praticamente uma semana - e relatou ao DIÁRIO as dificuldades que enfrentou ao longo da travessia difícil e que colocou à prova não só os seus conhecimentos de velejador, mas também a sua persistência.
Foram 4.200 milhas náuticas e 36 dias a navegar no meio do Oceano Índico, onde as condições climatéricas foram as mais adversas desde que saiu do Funchal, a 15 de Janeiro de 2019, na sua 'Sofia do Mar'.
A saída de Timor-Leste foi maravilhosa, mas… tinha na minha cabeça aquela dúvida: para onde vou? Já sabia que a Ilha da Reunião estava aberta e eu podia entrar, mas tinha um mês de viagem pela frente e será que ia continuar assim? O Oceano Índico estava todo fechado! Henrique Afonso, velejador madeirense
"Um pouco cansado" de estar em Timor-Leste durante sete meses, primeiro devido a uma avaria no seu veleiro, depois por causa da pandemia, Henrique Afonso tinha metido na cabeça que "já era muito tempo" passado no Sudeste Asiático e tinha de seguir viagem rumo à sua aventura: a circum-navegação.
Pelo caminho tinha Ilha de Natal, Ilhas Cocos, Maurícias... tantas ilhas. Mas, infelizmente, não me deixaram entrar porque estava tudo fechado. Ainda assim, os primeiros 12 dias foram maravilhosos. Vento fantástico e muito sol. Estava a ser uma viagem magnífica Henrique Afonso, velejador madeirense
De repente, a partir das Ilhas Cocos, a Sul, aí começou "a festa", tal como classifica o 'Pirata' a tormenta pela qual teve de passar. "Chuva, chuva, mar. Chuva, mar, vento. O vento não baixava dos 20 nós. Era 20/30 nós. As ondas eram enormes, de quatro metros, o que para este barco são muito grandes, e de repente tive um problema com a vela da proa também. Não conseguia abri-la. Felizmente, tenho uma mais pequena e consegui navegar com ela", recordou.
Ainda assim, o madeirense relembrou que devido ao tempo em que esteve parado em Timor-Leste, com o sol que faz naquele território, tudo o que era silicone, nas janelas da pequena 'Sofia do Mar', ficou ressequido e por isso "o barco meteu muita água durante o trajecto" até "na cama" onde teve de dormir.
Na verdade, esta foi uma das viagens mais longas que eu fiz na minha vida. O Oceano Índico é um oceano sem fim. Só queria que terminasse e nunca terminava. Quando é que eu chego? Tanta chuva. Tanta água. Tanto vento. E foram dias e dias e dias. De repente, apareceram-me as Maurícias e não consegui entrar. Foi deprimente. Podia entrar, descansar um pouco e conhecer, mas não me deixaram. 'Lock down' total! Henrique Afonso, velejador madeirense
Um dia depois de passar pelas Maurícias, a primeira impressão que teve da Ilha da Reunião até suscita alguma curiosidade. É que o 'Pirata' encontra semelhanças com a Madeira.
"Pela costa parecia que estava a ver parte do Paul do Mar, Cabo Girão e houve um momento em que parecia estar a ver a Calheta. Fiquei com a sensação de que estava a chegar a casa", confidenciou.
Ao chegar, o velejador diz que foi "super bem recebido" e já fez amigos. Um deles até já entregou a Henrique Afonso o pequeno-almoço na própria embarcação.
"As pessoas na Marina são simpáticas e o meu vizinho, Jack, francês solitário, que depois da primeira noite, pela manhã, trouxe-me um pão - daqueles bons - e dois croissants. Foi uma maravilha. Toma tantas cervejas como eu e essa é a parte mais perigosa", brincou ainda ao seu jeito.
'Pirata' da Madeira em dificuldades no Oceano Índico
O velejador madeirense Henrique Afonso, que está a dar a volta ao Mundo na 'Sofia do Mar', esteve a navegar com muita chuva e vento ao longo dos últimos oito dias. Faltam cerca de 3.500 milhas náuticas para chegar à Ilha da Reunião
Sobre a marina onde parou, Henrique Afonso revela que existem ali "vários barcos" e que "todos estão na mesma", ou seja, "à espera de seguir viagem para África do Sul, porque com esta situação da covid é difícil parar em Madagáscar ou na Cidade do Cabo". A ideia é sair em Outubro ou Novembro, pelo que até lá é preparar a viagem, isto é, vai aproveitar para tirar o barco, pintar o casco, limpá-lo por baixo e secá-lo.
Sobre a cidade... há uma feira com muita gente. Depois destes 36 dias foi como uma tempestade de pessoas para mim. No primeiro dia bebi aquela cerveja fria que esperava há muito tempo. Agora estou aqui, contente por ter chegada e sem muitos problemas. Vou aproveitar para conhecer a ilha e estar por aqui. É uma sensação maravilhosa chegar rodeado por gente de mar. Henrique Afonso, velejador madeirense
Quando à covid-19 na Ilha da Reunião "há pouca história". Conta-nos Henrique Afonso que não vê ninguém na rua com máscara, mas para entrar nos estabelecimento já é obrigatório. "Toda a gente anda numa boa, mas para entrar num lugar qualquer temos de colocar a máscara". Em baixo, fique com alguns momentos do 'Pirata' registados durante a travessia e que foram publicados no seu Diário.