Ministros e deputados demitem-se perante contestação nas ruas devido à explosão em Beirute
As demissões de membros do Governo e do Parlamento libanês estão a suceder-se no Líbano, fragilizando uma classe política há muito odiada por grande parte da população
As demissões de membros do Governo e do Parlamento libanês estão a suceder-se no Líbano, fragilizando uma classe política há muito odiada por grande parte da população, cuja ira se exacerbou após as mortíferas explosões de 04 deste mês.
As demissões de membros do Governo e do Parlamento libanês estão a suceder-se no Líbano, fragilizando uma classe política há muito odiada por grande parte da população, cuja ira se exacerbou após as mortíferas explosões de 04 deste mês.
Quase uma semana após as duas explosões no porto de Beirute, que causaram pelo menos 158 mortos e mais de 6.000 feridos, destruindo bairros inteiros da capital libanesa, as autoridades locais, acusadas de corrupção, negligência e incompetência atestada nas manifestações de rua, ainda não conseguiram responder à principal questão.
E a questão é bem simples: por que razão uma enorme quantidade de nitrato de amónio - segundo o primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, eram 2.750 toneladas - estava armazenada há seis anos no porto de Beirute, bem no centro da cidade, sem as necessárias medidas de precaução?
A situação agravou-se, sobretudo depois de o Presidente libanês, Michel Aoun, cada vez mais contestado, ter rejeitado uma investigação internacional e de as autoridades de Beirute não terem ainda avançado informações sobre a evolução do inquérito em curso.
Mais, na sequência do endurecimento da contestação popular, com manifestantes a ocuparem brevemente, sábado, vários ministérios em Beirute, dois ministros apresentaram domingo a demissão: a da Informação, Manal Abdel Samad, e do Ambiente, Damianos Kattar.
Depois, foi a vez de nove deputados fazerem o mesmo. Já hoje, foi a vez da ministra da Justiça, Marie-Claude Najm.
"As demissões dos ministros não são suficientes. Devem prestar contas", disse à agência France-Presse (AFP) Michele, uma jovem manifestante que lamentou a morte de uma amiga na sequência das explosões.
"Queremos um tribunal internacional para que nos diga quem a matou, no caso de [o Governo libanês] querer dissimular a questão", acrescentou.
A imprensa local admite que outras demissões poderão seguir-se às dos três ministros e lembra que, se forem sete as demissões, cai obrigatoriamente o executivo, que deverá reunir-se ainda hoje à tarde para fazer um ponto de situação.
Hassan Diab já admitiu que está pronto a demitir-se das suas funções, tendo dado um prazo de dois meses para que os partidos políticos do país se entendam ou convocará eleições antecipadas.
Nas manifestações que se desenrolaram ao longo do fim de semana, reprimidas pelas forças de segurança, os contestatários ao regime apelaram a uma "vingança" contra uma classe política totalmente desacreditada, ainda mais depois das explosões, uma catástrofe mais num país já assolado por uma grave crise económica, agravada pela pandemia de covid-19.
Mas a antecipação das eleições não é uma das principais reivindicações da população, dado que o Parlamento é controlado pelas forças tradicionais que elaboraram uma lei eleitoral calibrada minuciosamente para servir os seus interesses.
Há décadas que a classe política se mantém inalterada, enquanto o poderoso movimento armado pró-iraniano Hezbollah domina a vida política.
"Todos, queremos dizer todos", clamaram nos últimos dias os manifestantes, apelando à demissão de todos os dirigentes, entre eles Aoun e o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, cujas fotografias foram "enforcadas" simbolicamente durante a contestação do fim de semana.
Todo este cenário relançou a contestação popular desencadeada a 17 de outubro de 2019, quando um movimento espontâneo denunciou a corrupção da classe dirigente do país, que, depois, acabou por desvanecer-se face à pandemia do novo coronavírus.
A comunidade internacional, que há anos reclama reformas ao Governo libanês e uma luta efetiva contra a corrupção, demonstrou isso mesmo no domingo, numa videoconferência de doadores coorganizada pela França e pelas Nações Unidas.
Na reunião ficou claramente definido que a comunidade internacional vai distribuir "diretamente" pela população os 252,7 milhões de euros coletados para prestar socorro às vítimas das explosões.
O mecanismo de distribuição da ajuda continua, porém, por definir, tendo as organizações não-governamentais alertado os doadores para a possibilidade de os fundos sejam "capturados" pelas autoridades de Beirute.
Outro foco de desconfiança, face à recusa de Aoun em aceitar uma investigação internacional ao incidente, tem a ver com a imposição dos doadores para a realização de um "inquérito transparente" à causa das explosões, que deixaram cerca de 300 mil habitantes de Beirute sem casa e a quem o Governo ainda não prestou qualquer ajuda.
Quase uma semana após as duas explosões no porto de Beirute, que causaram pelo menos 158 mortos e mais de 6.000 feridos, destruindo bairros inteiros da capital libanesa, as autoridades locais, acusadas de corrupção, negligência e incompetência atestada nas manifestações de rua, ainda não conseguiram responder à principal questão.
E a questão é bem simples: por que razão uma enorme quantidade de nitrato de amónio - segundo o primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, eram 2.750 toneladas - estava armazenada há seis anos no porto de Beirute, bem no centro da cidade, sem as necessárias medidas de precaução?
A situação agravou-se, sobretudo depois de o Presidente libanês, Michel Aoun, cada vez mais contestado, ter rejeitado uma investigação internacional e de as autoridades de Beirute não terem ainda avançado informações sobre a evolução do inquérito em curso.
Mais, na sequência do endurecimento da contestação popular, com manifestantes a ocuparem brevemente, sábado, vários ministérios em Beirute, dois ministros apresentaram domingo a demissão: a da Informação, Manal Abdel Samad, e do Ambiente, Damianos Kattar.
Depois, foi a vez de nove deputados fazerem o mesmo. Já hoje, foi a vez da ministra da Justiça, Marie-Claude Najm.
"As demissões dos ministros não são suficientes. Devem prestar contas", disse à agência France-Presse (AFP) Michele, uma jovem manifestante que lamentou a morte de uma amiga na sequência das explosões.
"Queremos um tribunal internacional para que nos diga quem a matou, no caso de [o Governo libanês] querer dissimular a questão", acrescentou.
A imprensa local admite que outras demissões poderão seguir-se às dos três ministros e lembra que, se forem sete as demissões, cai obrigatoriamente o executivo, que deverá reunir-se ainda hoje à tarde para fazer um ponto de situação.
Hassan Diab já admitiu que está pronto a demitir-se das suas funções, tendo dado um prazo de dois meses para que os partidos políticos do país se entendam ou convocará eleições antecipadas.
Nas manifestações que se desenrolaram ao longo do fim de semana, reprimidas pelas forças de segurança, os contestatários ao regime apelaram a uma "vingança" contra uma classe política totalmente desacreditada, ainda mais depois das explosões, uma catástrofe mais num país já assolado por uma grave crise económica, agravada pela pandemia de covid-19.
Mas a antecipação das eleições não é uma das principais reivindicações da população, dado que o Parlamento é controlado pelas forças tradicionais que elaboraram uma lei eleitoral calibrada minuciosamente para servir os seus interesses.
Há décadas que a classe política se mantém inalterada, enquanto o poderoso movimento armado pró-iraniano Hezbollah domina a vida política.
"Todos, queremos dizer todos", clamaram nos últimos dias os manifestantes, apelando à demissão de todos os dirigentes, entre eles Aoun e o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, cujas fotografias foram "enforcadas" simbolicamente durante a contestação do fim de semana.
Todo este cenário relançou a contestação popular desencadeada a 17 de outubro de 2019, quando um movimento espontâneo denunciou a corrupção da classe dirigente do país, que, depois, acabou por desvanecer-se face à pandemia do novo coronavírus.
A comunidade internacional, que há anos reclama reformas ao Governo libanês e uma luta efetiva contra a corrupção, demonstrou isso mesmo no domingo, numa videoconferência de doadores coorganizada pela França e pelas Nações Unidas.
Na reunião ficou claramente definido que a comunidade internacional vai distribuir "diretamente" pela população os 252,7 milhões de euros coletados para prestar socorro às vítimas das explosões.
O mecanismo de distribuição da ajuda continua, porém, por definir, tendo as organizações não-governamentais alertado os doadores para a possibilidade de os fundos sejam "capturados" pelas autoridades de Beirute.
Outro foco de desconfiança, face à recusa de Aoun em aceitar uma investigação internacional ao incidente, tem a ver com a imposição dos doadores para a realização de um "inquérito transparente" à causa das explosões, que deixaram cerca de 300 mil habitantes de Beirute sem casa e a quem o Governo ainda não prestou qualquer ajuda.