Os hipócritas do politicamente correto
Os arautos da moralidade que pululam nas redes sociais sempre à procura de sangue não nasceram agora. Nada disso. Nem tão pouco são datados da altura em que elas foram criadas. O comentador de café que se exalta e fala mais alto para ganhar razão ou o treinador de bancada que dá “bitaites” ofendendo os árbitros e jogadores bem como a ressabiada que olha de cima a baixo a miúda com um corpo mais estimado e que encontra sempre algum defeito para meter o dedo, sempre existiram. Não são de agora. A única diferença é que a comunicação se massificou, hoje escrevemos uma coisa no Brasil e alguém pode responder no segundo seguinte na Mongólia. Ou seja, o palco foi montado a preceito para que esses perigosos rastejantes pudessem sair do buraco, alguns deles, com suma cobardia até se escondem atrás de perfis falsos para se sentirem mais à vontade, para arrotar uma série de disparates e frases feitas.
É o tempo de dizer tudo e o seu contrário com uma cara de parvo assinalável. Do dito por não dito, da fachada. Não me admira por isso que alguns deles usem e abusem desse tipo de estratégias para lançar suspeitas, para rebentar com a imagem de alguém ou tão só por pura inveja que há por aí muita gente que só vive bem com o mal dos outros. Existem certos tipos de gente que só estão dispostos a defender a sua verdade e a compreendê-la como única. Tudo o que saia para além disso é pura e simplesmente para exterminar. Não consigo por exemplo perceber como é que está alguém numa manifestação anti-racista que supostamente será defensora da paz e da justiça para todos a vociferar impropérios, desejando a morte à polícia. Nem consigo entender como é possível estar numa manifestação contra a violência animal e depois desejar a morte a um toureiro.
Nem percebo, por muito que ache o presidente do Brasil várias vezes ridículo, como se pode estar contra algumas coisas que ele faz que provavelmente não salvaguardaram da melhor forma a saúde dos brasileiros, mas depois regozijarem-se com o facto de ele ter sido infectado com a Covid-19. Nem sequer tanto apoiante dos imigrantes, dos mais indefesos e das minorias que logo de seguida “convidam” os brasileiros que votaram Bolsonaro a voltar para a terra deles. Ao mesmo tempo que acho surreal defenderem o multiculturalismo e a diversidade e mandarem a Joacine para a terra dela. Algures na educação de muitos a teoria que lhes foi impressa na mente não foi acompanhada de umas aulas práticas que lhes dessem uma ideia de justiça e igualdade mais real. Perdeu-se a sensibilidade à custa de fanatismos e tenta-se curar um mal com outro mal, olho por olho, dente por dente.
Se calhar era altura de as pessoas perceberem que não é com fanatismo que se combate o fanatismo. Que a violência, o racismo, a homofobia e tantas outras não se destroem com mais violência mas sim com valores estruturados e com a defesa do humanismo. Que não podemos defender os direitos de uns para querer transformá-los no mal dos outros. Esta sociedade só vai crescer quando estivermos dispostos a trabalhar uns com os outros, sem resquícios de um passado de que não temos a culpa e com o qual temos que aprender a conviver, aprendendo com os erros e mostrando aos mais novos que o caminho tem que ser outro. Da solidariedade, do respeito e da equidade. Para todos sem exceção. Eu também não aceito ser responsabilizado por coisas que não fiz só pelo meu tom de pele, pelo meu género ou nacionalidade. Cada pessoa deve assumir os seus actos e ser julgada pelas suas convicções e forma como as pratica no período histórico em que elas acontecem. Não pelo ódio nem por sentimentos destrutivos. Para isso temos que nos aproximar da defesa do que nos parece estar certo e não do que os outros querem ouvir só para ficarmos com a fotografia limpa mesmo sabendo que está errado.