Oposição venezuelana denuncia tentativa de transferência de 25 milhões de euros
Dinheiro tinha como destino a Rússia
A oposição venezuelana acusou hoje o Governo do Presidente Nicolás Maduro de tentar transferir 25 milhões de euros de fundos da Corporação Venezuelana de Guayana (CVG) de Espanha para a Rússia.
A denúncia foi feita por Enrique Castells, que em 2019 foi nomeado pelo líder opositor Juan Guaidó para administrar os recursos minerais da Venezuela e para presidir a Junta de Administração 'ad hoc' da CVG, uma corporação da qual fazem parte 21 empresas de setores como a mineração, silvicultura, alumínio e serviços.
"Os nossos advogados avisaram-me [da tentativa de transferência] e apanhei um voo para Madrid para evitá-la", explicou Enrique Castells ao diário espanhol El Mundo.
Castells, que segundo a imprensa venezuelana está radicado em Washington, nos EUA, explicou ainda que esse dinheiro está bloqueado e que, segundo a lei espanhola, "o poder é detido pelo único administrador da sociedade, e somos nós".
Por outro lado, informou que foi apresentada uma queixa contra as pessoas que tentaram fazer a transferência (que teriam sido nomeadas por Nicolás Maduro para administrar a CVG), por terem "tentando, com documentação falsa do Governo venezuelano, levar o dinheiro [de Espanha] para a Rússia".
A denúncia tem lugar depois de em 02 de junho último uma sentença do Tribunal Comercial de Londres reconhecer o poder de decisão à administração interina do Banco Central da Venezuela (BCV), nomeada pelo presidente da Assembleia Nacional e líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó.
Depois de ouvir as partes, o juiz Nigel Teare concluiu que o Governo do Reino Unido reconheceu "inequivocamente" Guaidó como "Presidente constitucional interino" do país latino-americano e, portanto, são os administradores por ele indicados para o BCV quem tem autoridade sobre as reservas.
Em causa estava a decisão sobre se era a administração do BCV presidida por Calixto Ortega, nomeado por Maduro, ou o conselho interino, nomeado por Guaidó, quem tinha o direito de gerir as reservas de 31 toneladas de lingotes de ouro depositadas no banco central britânico.
O BCV anunciou que recorreria da decisão e o Presidente Nicolás Maduro ordenou uma "investigação penal" local para determinar os alegados responsáveis pelo que disse ser "o roubo de ouro venezuelano" que se encontra no Banco Central da Inglaterra.
Em 03 de julho, a Venezuela emitiu mandados de detenção e confiscação dos bens de 11 cidadãos, assessores do líder opositor Juan Guaidó, a quem acusa de pretender apropriar-se das reservas de ouro venezuelanas, depositadas em Inglaterra.
Segundo o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, a ação do governo britânico foi planeada pelos EUA em 2019, na Casa Branca, "e incorporou ativamente vários países da União Europeia, entre eles Inglaterra".
A crise na Venezuela agravou-se desde janeiro de 2019, quando o presidente da Assembleia Nacional (parlamento), o opositor Juan Guaidó, jurou publicamente assumir as funções de presidente interino do país, até afastar Nicolás Maduro do poder, convocar um Governo de transição e eleições livres.
Desde o reconhecimento de Guaidó como presidente interino pelo Governo britânico, em fevereiro de 2019, que o Banco de Inglaterra recusou sistematicamente a Caracas devolver parte das reservas de ouro que o país sul-americano possui em seu nome.
Em julho de 2019, a Assembleia Nacional designou uma administração temporária para o BCV, mas a decisão foi declarada nula pelo Tribunal Supremo venezuelano.
A Venezuela fez vários pedidos para recuperar o equivalente a mil milhões de dólares (cerca de 991 milhões de euros) de ouro, mas Juan Guaidó escreveu duas vezes ao Banco de Inglaterra para rejeitar esses pedidos de Maduro.