A avaliação da Escola
Na semana passada repetiu-se a publicação anual do ranking das “melhores” escolas nacionais do Básico e do Secundário. Quase 1900 escolas em todo o país são colocadas lado a lado e medidas através de um só critério: as médias das notas obtidas pelos seus alunos nos exames nacionais.
Não tomo por insignificante ou indiferente este ranking mas ele sempre foi extraordinariamente redutor para avaliar o papel da Escola na sociedade.
As escolas têm um documento orientador, que as apresenta, as retrata e em que se comprometem com o caminho que querem seguir. Esse documento é o Projeto Educativo de Escola. Existem muitas formas de o caracterizar, mas cito esta: “O Projeto Educativo é o primeiro grande instrumento de planeamento da ação educativa da escola, devendo por isso, servir permanentemente de ponto de referência e orientação na atuação de todos os elementos da Comunidade Educativa em que a escola se insere”.
Dito isto, vamos à realidade. Imagine uma escola que se encontra numa zona onde as famílias dos alunos têm menos hábitos sócio-culturais, menores recursos e horizontes menos amplos. E que nessa zona geográfica concreta os níveis de criminalidade na rua são elevados, os furtos são frequentes e o insucesso escolar e os níveis de desistência da escola são grandes.
Imagine agora uma outra escola que está colocada numa zona bem mais privilegiada, onde os recursos a todos os níveis são elevados e as classes que as frequentam são abastadas e com uma apetência cultural bem mais elevada.
O papel que estas duas escolas têm – o seu projeto educativo – é seguramente diferente. A segunda escola está talhada para formar alunos de excelência e conseguir por exemplo que ingressem depois nas melhores faculdades, etc.
Já a primeira escola – em função do contexto em que existe – tem outras funções, como estimular os jovens a estudarem até ao final da escolaridade, evitar o abandono escolar e até a delinquência.
Aqui chegados, está bom de ver que a segunda escola nos rankings ficará sempre acima da primeira, mas estará a primeira escola a falhar? Não necessariamente. Ela está a trabalhar no contexto em que opera e, por exemplo, conseguir que os alunos não desistam e finalizem os estudos com sucesso, já é uma vitória. Com isto não defendo que devam cultivar horizontes e ambições mais baixas, mas sim que em cada contexto a escola tenha um papel diferente e diferentes papéis são cumpridos de forma distinta. E é isto que um ranking - que é apenas numérico - não lê, não vê, não sabe e não sente.