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Análise

Eles lá sabem

O estado da Autonomia é preocupante para 40% dos participantes num inquérito promovido pelo DIÁRIO que, como todos os outros, “vale o que vale” e muito se quisermos de facto tratar com urgência dos males que impedem a Madeira de ser referência da qual nos orgulhamos, a exemplo dos seus melhores e mais audazes ou das iniciativas que merecem apreço internacional e nos colocam no lote dos bons.

O discutível resultado não assenta num estudo científico ou sondagem de opinião. Contudo, é revelador de um sentimento colectivo, mau grado as encomendas de circunstância, o investimento nos recantos da imprensa nacional, o endeusamento governativo motivado pela excelência na atitude preventiva dos madeirenses face à pandemia e as promessas de dinheiro a fundo perdido para que a débil regional não morra de repente.

A percepção pública que nem tudo vai bem, mesmo que muita da incerteza sentida na pele seja encostada a terceiros, faz-se de pequenos sinais e de grandes números, num caso e noutro nem sempre valorizados na sua essência ou resolvidos com mestria e de forma definitiva.

É preocupante que quase 44 mil funcionários estejam em ‘layoff’ e que os efeitos sociais e económicos desta paragem forçada sejam imprevisíveis. É preocupante que 1.200 entidades, muitas quais abastadas, tenham calotes à Segurança Social, organismo que nos últimos cinco anos recuperou 71 milhões de euros de dívidas, mas deixou prescrever processos em valores superiores a 52 milhões. É preocupante que as questões políticas sejam colocadas ao nível do ‘jogo do bicho’ e transformadas em vitórias ou derrotas de efeito duvidoso, pois como se viu, algumas são redundantes e outras estão viciadas.

Vivemos num tempo sem precedentes que dispensa chavões discursivos, conflitos inconsequentes, incompatibilidades reprováveis, ameaças sem nexo, chantagens tribais e mitos com pés de barro. Vivemos num tempo em que a forma vale mais do que a substância e em que alguns embaciam o vidro com o reles intuito de não deixar transparecer a autenticidade.

Vivemos num tempo quem alguma actualidade está contaminada por factos não provados, narrativas que visam liquidar relações.

A Madeira precisa de massa crítica, de gente com ideias, capaz de inovar e de fazer-se ouvir. De diplomacia económica e com sentido de Estado. Porventura precisa de mais conquistas substanciais, para que possa fazer o seu caminho sem estorvos e desculpas. Mas precisa de estabilidade emocional, que passa por transformar a gritaria em diálogo e a exigência em proposta. Precisa de pensar em modelos alternativos de desenvolvimento e de financiamento. Precisa de ser credível.

Nesta tarefa comum será que todos os partidos estão sintonizados com o futuro? Pelo que ouvimos na última semana, quem confunde o umbigo com o centro do mundo dificilmente contribui para a superação dos dramas colectivos. Com discursos que voltaram a eleger Lisboa como alvo de quase todas as críticas e emotivos apelos à revisão da Constituição e da Lei de Finanças Regionais sem propostas fundamentadas numa base consensual não levantamos voo. Com receios sobre o alegado controlo da imprensa regional, como se o jornalismo fosse pertença dos poderes e não tivesse vida própria alguns não descolam das tristes figuras que deviam ser julgadas pelo estado que a Madeira chegou. Era preferível terem ido beber “imperial”.

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