Multiplicam-se as críticas ao laboratório de Lisboa
As críticas ao laboratório de Lisboa com o qual o Governo Regional estabeleceu um acordo para a realização dos testes de despiste à Covid-19 aos passageiros que tenham viagem marcada para a Madeira não param de surgir.
A alegada saga que envolve o agendamento do teste PCR no CEDOC – Centro de Estudos de Doenças Crónicas tem levado muitos passageiros a acabarem por arriscar voar para a Região tem o teste prévio, na incerteza de qual será o resultado do mesmo, com as consequências que daí possam resultar.
É o caso de um passageiro que chegou ontem de manhã ao Aeroporto da Madeira – Cristiano Ronaldo. Tinha viagem marcada desde o passado dia 2 de Julho. Alguns dias depois tratou, logo, de agendar o teste, e no passado domingo tratou de preencher o formulário que lhe era pedido, apresentando os respectivos comprovativos da viagem. Recebeu apenas um email automático, dando conta de que o formulário tinha sido bem recebido.
Desde então, não só não obteve qualquer contacto dando conta da data e hora em que deveria se apresentar no laboratório para a realização do teste, nem tão pouco conseguiu, na semana que antecedeu à sua viagem, qualquer contacto com o CEDOC, quer por telefone, usando os números indicados para o efeito, quer por email. “Simplesmente não me responderam aos emails, nem me atenderam as chamadas”, refere.
A opção, depois de bastante desagradado e ter colocado a hipótese de cancelar a viagem, foi vir sem teste e fazê-lo à chegada. Conheceu o resultado do mesmo no final do dia de ontem. “Por sorte foi negativo, mas imagine-se que estava infectado. Teria pago uma viagem para vir para a Madeira fazer quarentena no hotel, sem a minha família, sem qualquer apoio de alguém conhecido, e à mercê da sorte ou da boa vontade das pessoas”, aponta, ao mesmo tempo que não poupa nas críticas as autoridades regionais que, no seu entender, “nada fazem para solucionar este problema” e que “colocam em causa a satisfação dos turistas, mesmo antes de eles cá chegarem”.
Em causa, acredita este passageiro, “fica o bom nome e a imagem da Madeira”, apresentando como contraponto o caso dos Açores, “onde tudo é muito mais facilitado”, mostrando-se arrependido por não ter escolhido as ‘Ilhas da Bruma’, ao invés da ‘Pérola do Atlântico’.
Quem já equaciona a possibilidade de mudar a sua viagem é Ana Paula Belchior. Uma turista nacional que tem viagem marcada para a Madeira na próxima semana, e que desde há duas semanas tem tentado agendar a realização do teste para si a outros três elementos da sua família, mas sem sucesso.
“Lamentável”, é a palavra que encontra para melhor descrever a situação, que tanta preocupação tem causado. “Apelam a fazer férias na Ilha e depois é isto, quando teria tudo mais simplificado, e até seria mais barato, se escolhesse viajar para Itália ou para Espanha”, desabafa. Agastada com a situação, refere problemas semelhantes aos acima anunciados. “Não respondem aos emails, não nos dizem se vamos poder fazer o teste ou não, não dão nenhuma satisfação aos passageiros. Isto é, no mínimo, lamentável”, resume.
Não fosse a burocracia que terá de enfrentar perante uma possível alteração do destino, já o teria feito há muito. “Só tenho tido chatices por ter escolhido viajar para a Madeira. Nenhum turista encara estas situações de bom grado”, salienta, ao mesmo tempo que dá conta de já ter reclamado junto da Secretaria Regional do Turismo e Cultura, cuja constatação foi de que diariamente são muitas as reclamações do género. Das reclamações que fez junto do próprio CEDOC não obteve qualquer resposta.
Embora ainda faltem alguns dias para a sua viagem, Ana Paula Belchior dá conta de que “a indicação do agendamento do teste seria uma forma de descansar os passageiros”, além de permitir que estes organizassem melhor a sua vida e pudessem saber com o que realmente contam.
O CEDOC disponibiliza uma nova plataforma para agendamento dos testes
Refira-se que, ainda no final da passada semana, o CEDOC dava conta de que os passageiros que viajam para as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores podiam agendar automaticamente, a partir de 24 de Julho, os testes de diagnóstico à Covid-19 através do sistema disponibilizado para o efeito, tornando, aparentemente, mais simples e rápido todo o processo.
Embora na altura dessem conta de que este sistema permite que os passageiros escolham o horário mais conveniente para realizar o teste e recebam uma confirmação imediata da data e hora da colheita, a verdade é que tal não tem ocorrido.
No caso apresentado, o email automático recebido não indica a data e hora da colheira. Apenas dá conta de que “não nos é possível fazer o agendamento da sua colheita se nos contactar com uma antecedência inferior a 5 dias úteis da data da sua viagem. A confirmação do agendamento será realizada pelo CEDOC indicando data e local e a confirmação da disponibilidade. Note-se que não são realizadas colheitas ao fim de semana e dias feriados”.
Num contacto posterior, foi dada a informação de que “devido ao elevado número de pedidos de agendamentos, não podemos assegurar respostas imediatas”, ficando os passageiros sem saber se poderão fazer o teste antes, quando e a que horas.
Ao DIÁRIO, o CEDOC esclareceu que os serviços de diagnóstico à Covid-19 disponibilizados por este laboratório “são um complemento e uma alternativa à testagem que é oferecida pelo Governo da Região Autónoma da Madeira (RAM) aos passageiros que chegam aos aeroportos locais”.
Face às denúncias de falta de capacidade, o laboratório deu conta de que “tem vindo a implementar medidas de reforço à capacidade de teste e à capacidade de resposta a pedidos de agendamento e de resposta a perguntas”.
Conforme já noticiado pelo DIÁRIO, o acordo inicialmente estabelecido tinha como meta indicativa a realização de até 200 testes por dia. Hoje, o CEDOC adiantou que “neste momento, o CEDOC está a realizar cerca de 300 testes por dia”, sendo que até à data já foram realizados perto de 4 mil testes a passageiros que tinham viagem marcada para a Madeira.
Embora o gabinete de comunicação da NOVA Medical School (Universidade Nova) garanta que “neste novo sistema a marcação e confirmação do dia e hora de testes são automáticas e imediatas”, o DIÁRIO teve acesso a emails recebidos por alguns passageiros, que não continham qualquer indicação quanto ao agendamento do teste, razão pela qual têm insistido nos contactos com o referido laboratório. Se o agendamento automático estivesse a funcionar correctamente, “dois dias antes do teste os passageiros recebem um lembrete a recordar o agendamento”, dá conta o mesmo gabinete, reforçando que “os passageiros não necessitam de voltar a estabelecer qualquer contacto com o CEDOC antes do teste e basta que compareçam no CEDOC na hora marcada”.
Quanto ao horário de colheitas, neste momento é entre as 8 e as 12 horas, sendo que a partir do dia 10 de Agosto será alargado até as 15 horas. Passará, também, a haver um período de atendimento ao sábado, entre as 8 e as 11 horas.
Porcurando explicar a alegada dificuldade em responder a todos os pedidos, CEDOC deu conta de que “durante esta semana, houve um fluxo invulgarmente elevado de chamadas e e-mails, o que atrasou os tempos de resposta. Na grande maioria dos casos, as questões colocadas pelos passageiros prendem-se com a mudança para a nova plataforma de agendamentos”.
“O CEDOC tem procurado responder a todas as questões e assegurado a migração do agendamentos previamente efetuados para a nova plataforma. O CEDOC estima que, na próxima semana, todas estas questões estejam resolvidas e que os agendamentos automáticos sejam a via preferencial para marcações de testes. Os passageiros saberão sempre o número de vagas que estão disponíveis para cada dia e os pedidos serão confirmados por ordem de marcação. Os nossos serviços de atendimento por telefone e email continuarão disponíveis e continuaremos a atender e a responder a condições excecionais em que não seja útil ou praticável efetuar o teste à chegada como por exemplo para os passageiros que viajam e regressam no mesmo dia para a RAM”, deu conta ainda a mesma fonte.
O DIÁRIO tentou contactar, também, a Secretaria Regional da Saúde e Protecção Civil, mas não obteve qualquer resposta às questões colocadas, todas elas relacionadas com esta aparente falta de capacidade de resposta do laboratório. Questionámos, entre outros aspectos, se têm recebido reclamações desta situação e se o Governo Regional tem preparada alguma medida de recurso para minorar os constrangimentos causados aos passageiros.