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Crónicas

Basta que sim!

...pois é, gostava de assistir ao vivo e a cores àquela reabertura de fronteiras em “portunhol”, com monarquia e tudo, mas dizem ser pouco seguro meter-se num avião e ir até à capital, o maldito corona aparece onde menos se espera, contagiar sem olhar a quem é o seu adn, e até a Saúde um bocado à nora, como é que pode, confinar de novo o bicho homem seria fundamental, pelo menos os infetados, mas como é que se faz isso, pergunta a Política, agora que o pessoal galopou de novo a vida ao ar livre, máscaras quanto baste, elas não dão jeito nenhum com este sol de verão, a sedução da praia ao rubro, até o nosso Primeiro e mais o grande Professor, qual deles o maior desconfinador, se apressaram no início a dar um mergulho, era preciso consumar o “milagre” português, passar imagem positiva para as europas, novo vigor fortalecendo aos poucos a vida pública, os portugueses estavam a ganhar a batalha, verdadeiros heróis do mar em terra seca, desconfinar era preciso e urgente, havia que conquistar a champions, pois então, e conquistámos mesmo, batalha renhida, contra os espanhóis em primeiro lugar, sempre os espanhóis, claro, aqui tão perto as cócegas da inveja são um tormento, por vezes um azar, mas não desta vez, a champions há-de vir e Portugal bem a merece, disseram naquela tarde em afinado coro burlesco os três pais da Pátria, e a coisa até estava a ir bem não fosse a surdina maledicente dos media do costume, incapazes de ver a nobreza da nação quase vitoriosa no Covid, a luta heróica dos profissionais de saúde para quem a champions era também um prémio de público reconhecimento, talvez antes um bónus, já que dinheirinho não havia nem há, mas os jornalistas desancaram na cabecinha pensadora que pariu tal propaganda, diga-se, e a coisa seguiu adiante, rumo ao anódino dos dias estivais, não fosse o maldito vírus reaparecer de repente, e assim entrámos verão adentro sem segurança nenhuma, ele são jamaicas e odivelas e depósitos de velhos onde o bicho se multiplica por demais, mas como é que isto nos foi acontecer agora, é o subúrbio e a pobreza, dizem, mas o pessoal tem que ir trabalhar, pelo menos aquela imensa maioria que não fica a beber cerveja com música aos berros pela noite fora, ganhar o pão é preciso, dizem os que ainda têm emprego, e então é ver aqueles transportes que parecem comboios indianos, pudera, o corona adora aquilo, e então a malta fica doente sem saber, também não adiantaria muito, amanhã é dia de trabalho outra vez, e eis-nos agora com números assustadores, mas, calma, dizem os pais da pátria, ainda não estamos em situação de pré-ruptura, clama o grande Professor agora em versão epidemiologista, e nós a retorcermo-nos face ao contorcionismo dos números para salvar o “milagre” a tempo da champions, os malabarismos da propaganda oficial qual mezinha xaroposa que afugentaria a doença, e o pior é que já estamos em julho, aviões a chegar e a partir, parece que somos proscritos de alguns “corredores”, até dos ingleses, olha quem, a velha Aliança há muito deixou de funcionar, e o maldito vírus que não se afasta, de facto a realidade não costuma sair de cena, mas pior que tudo, profissionais encartados começam a denunciar os buracos do desconfinamento por onde o vírus está sempre a esgueirar-se, ainda por cima parece que ninguém cuida de dar a liderança do combate a quem sabe, e lá voltámos àquelas tabelas diárias dos infetados e dos mortos, esses já estão na paz do Senhor, o que é preciso é cuidar dos que por cá andam, diria o velho Marquês, ai a falta que nos faz um Sebastião José para o covid, aí talvez fôssemos até à capital, o nosso Primeiro já disse que os turistas podem chegar à vontade, que o vírus só anda lá por aqueles sítios reles e mal frequentados, que horror, mas isso não é o centro de Lisboa, cidade rica, o lixo do seu luxo nas lojas safe & clean da Avenida, podres de chique em inglês e tudo, à espera da champions ...

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