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O pateta da aldeia

O povo, esse não, não é pateta. O povo acha-se vivo de engenho, astuto, sagaz, malicioso, atrevido, em suma, esperto.

Em todas as aldeias há uma, ou mais pessoas que, por serem demasiado ingénuas, crédulas ou com algumas dificuldades de raciocínio, são considerados os patetas da aldeia.

Todos conhecemos aldeias e, por causa disso, todos conhecemos alguém assim - tolo, parvo, estúpido na verdadeira acepção da palavra.

Parvo é também aquele, ou aquela, que tem dificuldades no raciocínio ou é considerado demasiado ingénuo, e este é definido como sendo alguém que não tem malícia, que é inocente, natural, simples.

O João Pateta, do Guerra Junqueiro, era assim: simplório, dizendo sempre à Mãe que para a próxima seria mais esperto.

Simplório pode ser uma pessoa que é muito crédula, um papalvo.

E um papalvo não é mais do que um simplório, um pateta em última análise.

A língua portuguesa tem destas pérolas que deixam transmitir ideias com uma miríade de palavras que significando coisas semelhantes podem ser tão diferentes.

A nossa aldeia (a grande) não é diferente das outras aldeias, não é diferente da aldeia de Guerra Junqueiro onde vivia o João, que era filho de uma pobre viúva, bom rapaz, mas um pouco simplório. As gentes da aldeia chamavam-lhe por brincadeira João Pateta.

Convido-os a lerem a história do João, ingénuo, que era um simplório, um papalvo, um pateta em última análise.

Os patetas, por o serem, prometem fazer sempre melhor para a próxima vez. Fazem lembrar políticos em época de eleições ou em época de caça ao tacho: prometem sempre melhor para a próxima vez, dizendo que esperto é o povo, que vota neles que até são um pouco simplórios, reconhecem.

O simplório Centeno, pessoa ingénua e crédula (!), deixou-se enredar pelas histórias que lhe contava o seu Primeiro, esperto no seu entender de pessoa simples e crédula. E essas histórias levaram a que fosse nomeado governador do banco do País, mesmo que todos fossem contra a sua nomeação. Esta foi proposta por quem representa cerca de um terço da população da aldeia, estando os representantes dos outros dois terços contra a entrada de um simplório para um cargo de tal importância, tão importante que até tem a alcunha de tacho. E o simplório agradeceu, com a simplicidade que só um papalvo sabe colocar nos agradecimentos aos presentes que recebe.

O povo, esse não, não é pateta.

O povo acha-se vivo de engenho, astuto, sagaz, malicioso, atrevido, em suma, esperto.

Ao povo ninguém lhe come as papas na língua, “não que eu não deixo, agarrem-me que vou a eles”, enquanto tiram selfies com o chefe dos espertos ou com o seu ajudante de campo que carrega às costas sem sentir qualquer peso.

O povo, esperto que é, não se deixa enredar em histórias mal contadas, daquelas que a imaginação não alcança o que a realidade constrói.

O Marcelo, os Costas (o primeiro e o governador), o Centeno, os Rodrigues das Assembleias e quejandos

(da esquerda mais radical à direita igualmente radical),

são a prova de que o povo é esperto e que não vai em cantigas. Se eles dizem que é assim e o povo diz não é, eles dizem que para a próxima vão fazer melhor e o povo, espeto que é, acredita!

Mas, esperem lá, não é isto que dizia o João Pateta do Guerra Junqueiro à sua Mãe:

“Para a próxima vou ser mais esperto”?

Então, assim sendo, nesta aldeia que é Portugal, o pateta da aldeia é o povo que nela habita e os espertos são os que, “brincando”, chamam pateta ao povo, tão bem retratado no boneco que Bordalo Pinheiro criou e que Guerra Junqueiro imortalizou.

Nós somos o “João Pateta” desta aldeia chamada Portugal!

Deixamos que os “espertos” brinquem com a nossa condição porque sabem que basta-lhes prometer fazer melhor para a próxima para que, crédulos e ingénuos como somos, os aceitemos como pares da uma mesma confraria de patetas.

P.S. - e, como é habitual, quando a coisa já não vai nomeia-se um “consultor externo” para pôr em letra de forma o que os políticos não conseguem fazer. António Costa, o nosso Primeiro, nomeou outro António Costa, Silva neste caso, para elaborar um plano de recuperação!

E ele elaborou: pegou em algumas propostas que os políticos não conseguiram fazer vingar nas duas últimas décadas - TGV, novo aeroporto, reformas estruturais e outras, remexeu, resumiu argumentos, e com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, lá apresentou o seu plano para os próximos dez anos, a ver se se faz o que não se fez nos últimos vinte, ou seja o período de uma geração!

Entre espertos e patetas alguém se há de salvar!

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