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Madeira

Empresários não podem "estar sempre à espera da almofada que é o 'Papá Estado'"

Cristina Pedra, presidente do Conselho Consultivo de Economia, reconhece que a pandemia agudizou e evidencia os problemas estruturais existentes

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Foto Amílcar Figueira

A presidente do Conselho Consultivo de Economia incentivou hoje os empresários a deixarem de pensar no 'Papá Estado', sobretudo nesta fase difícil em que a demanda por apoios advém de todos os sectores. Na sua intervenção, na primeira sessão do projecto "Ouvir para Decidir", que decorreu hoje no salão nobre da ALRAM, Cristina Pedra lembrou que o trabalho dos conselheiros começou há alguns meses. "Obviamente que vivemos períodos agudos de grandes desafios, sendo que a economia deixou aparecer problemas estruturais que já tinha", referiu. "Muitas empresas tinham problemas de falta de capitalização, de falta de competitividade, de falta de inovação, de desmaterializar processos, de investir na área tecnológica e digital e, também, de falta de mercado. Portanto, os problemas estavam lá", reconheceu.

Com o "agudizar da crise pandémica", reforçou, "há a demonstração de problemas que estavam, porventura, em alguns casos, artificialmente escondidos". E acrescentou: "O grande desafio do Conselho Consultivo de Economia não é ter soluções mágicas. Não as teremos com certeza. Mas é compaginar contributos que só vós é que sabem, porque estão no dia-a-dia, seja através do IDE, seja através dos empresários, das start ups."

Lembrando que existe um Plano de Desenvolvimento Económico e Social regional, o PDES, Cristina Pedra instou o Governo Regional a colocar no terreno. "Tem de fazer, deve fazer, é obrigatório fazê-lo como um documento macro-económico de alinhamento do Plano Estratégico de todos os sectores da Região Autónoma da Madeira, seja saúde, economia, educação. É também uma obrigação para podermos aceder aos quadros dos incentivos comunitários. Não se confunda o PDES , que será apresentado em tempo oportuno pelo Governo Regional, desde logo para poder obter parecer do Conselho Económico de Concertação Social e depois apresentá-lo formalmente na Assembleia Legislativa. Este documento tem uma abrangência a médio e longo prazo, que começa por fazer uma análise prospectiva daquilo que existiu e da afectação dos fundos do último e do actual quadro comunitário em curso".

Já o CCE que preside pretende "ter uma suma dos contruibutos para a economia concretamente. Aqui dividia o nosso objectivo em duas grandes fases. Uma que é forma de actuação, onde se pode investir, quais as áreas de valor acrescentado, para manter os actuais postos de trabalho, manter empresas que são actualmente viáveis e, para além disso, criar novos desafios e chamar a classe empresarial. Só através dessa monitorização do que é de valor acrescentado e do que podemos ter competitividade e know-how para fazer, é que nós podemos organizar e orientar fundos estruturais para virem à medida das necessidades que são exequíveis, dada a nossa dimensão e questões concretas, por exemplo, temos um tecido empresarial sobretudo de pequenas e micro empresas", apontou.

Sobre os planos, defende que o Conselho quer dar sustentação às mesmas para que "não tenhamos planos teóricos". E explicou: "Eles têm de ser concretos face à nossa competitividade e capacidade regional. E temos a possibilidade de ir muito mais além. É esse o desafio que temos, é esse o mote deste ciclo de reuniões, em que os conselheiros estarão em todas ou far-se-ão representar, para ouvir e para decidir, para dar as ferramentas sustentadas e razoáveis de uma decisão. E aqui iremos ter duas preocupações. Uma política estratégica e contributos para o futuro, mas necessariamente como atravessar, com medidas concretas, o curto prazo. Só podemos renascer se continuarmos vivos ou, pelo menos, até à fase que se consiga agilizar o sector económico."

Por fim, alertando para o facto dos fundos públicos virem a ser no curto prazo escassos e limitados para tanta demanda de tantas áreas, devido também à perda de receitas fiscais, e ainda que se aguarde ansiosamente pelos reforços dos fundos comunitários, Cristina Pedra disse: "Não podem os empresários deixar de fazer o seu trabalho. Não podemos querer uma economia de mercado livre, é verdade com regulamentação e fiscalização, isso será sempre necessário, mas sem a actuação e ingerência do próprio Estado em sectores que são próprios da actividade económica. Mas se temos esta postura, obrigatoriamente não podemos, quando em dificuldade, estar sempre à espera da almofada que é o 'Papá Estado', seja o Governo Regional ou outro. Por isso mesmo, acredito que todos podemos, individualmente e em colectivo nestas sessões, dar o contributo para ultrapassar esta fase difícil e que tenho a certeza que todos temos capacidade para dar o passo em frente."

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