Uso do cartão branco influencia a prática desportiva com 'fair play'
A utilização do Cartão Branco, iniciativa do Plano Nacional para a Ética no Desporto (PNED), "influencia a prática desportiva com 'fair play'", disse hoje à Lusa o autor de um estudo internacional sobre a aplicação da iniciativa.
Segundo Steve Town, investigador da Universidade de Bournemouth e chefe do Comité Científico do Movimento Europeu pelo Fair Play (EFPM, na sigla inglesa), o estudo que desenvolveu mostra que "a aplicação do cartão influencia a prática desportiva com 'fair play'", seguindo a aplicação, e os efeitos, da medida sobretudo no futebol jovem, no qual foi implementado.
"Isto é evidenciado pelo exemplo português, porque os cartões amarelos e vermelhos foram reduzidos nas competições juniores na temporada seguinte à introdução do cartão branco. Esta medida é barata de aplicar e vale a pena fazê-la em todos os contextos, mas em particular em desportos coletivos, em escolas e no desporto jovem", explicou, numa resposta por escrito à Lusa, o investigador.
Em junho, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou a extensão do cartão branco, um recurso que os árbitros têm para premiar atos de 'fair play', a todas as competições sob a sua alçada, excetuando a Taça de Portugal e as profissionais, organizadas pela Liga de clubes (I e II Ligas).
"É um passo de gigante para a promoção da ética desportiva a nível do futebol. Queremos agradecer ao Conselho de Arbitragem da FPF este empenho", destacou, então, o Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED), em comunicado.
O PNED representa uma iniciativa governamental na promoção de "valores éticos inerentes à prática desportiva" e está sediado no Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), sendo dinamizado por um gabinete de coordenação.
"O cartão branco é um recurso pedagógico que visa enaltecer condutas eticamente corretas, praticadas por atletas, treinadores, dirigentes, público e outros agentes desportivos", acrescentou o PNED.
Esta extensão do uso "vai aumentar o seu impacto sem qualquer dúvida", admite Steve Town, ainda que esta ampliação da medida deva "ter em conta o que o estudo alerta sobre educação, ampliação de iniciativa, a sua promoção e a atribuição de pontos" nas tabelas competitivas devido ao uso.
"Tenho de dizer que Portugal é um líder respeitado e [um país] exemplar neste campo. O PNED levou a várias iniciativas e recursos que devem ser aplaudidos. O material educativo para treinadores e professores é muito bom, baseado em teorias sólidas em termos educacionais e de mudança comportamental", comentou o docente universitário.
A inclusão da medida ao lado de outras "abordagens federativas" e em "planos educativos com treinadores e outros dirigentes", chegando ainda ao público e aos pais de jovens atletas, aumenta a sua eficácia, defendeu o estudo de caso.
Esta maior abrangência a partir de 2020/21 levará "a mais exemplos de 'fair play', além de passarem a ser registados", dando "maior atenção ao bom comportamento, enquanto dantes só o mau comportamento era atraente para aqueles que procuram atenção".
"Está em evidência, ainda que seja necessária mais pesquisa, a relação entre a aplicação do cartão e o registo de menos incidentes negativos em campo. Subjetivamente, os inquiridos sentiram que comportamentos foram modificados e alterados. Agora, é mais preciso no impacto fora do relvado", nota o investigador.
Segundo Steve Town, o foco da comunicação social "em maus comportamentos mais do que em boas atitudes" influencia este "reflexo da sociedade" que é o desporto, pelo que a iniciativa terá "um impacto muito positivo".
O investigador aponta para várias respostas no inquérito levado a cabo, em que os participantes identificam a necessidade de uma política de "tolerância zero para mau comportamento e o uso mais frequente de cartões vermelhos para racismo e uso de linguagem abusiva", ainda que, a longo prazo, "a maior parte das pessoas reconheçam que o reforço positivo é melhor do que um sistema punitivo.
Quanto ao EFPM, o estudo de caso português permitiu ao movimento "aprender muito sobre as melhores práticas", com a iniciativa europeia a passar a "promover esta abordagem aos seus membros na Europa".
"O EFPM vai promover a adoção do cartão junto dos comités olímpicos nacionais da Europa, federações desportivas e desenvolver recursos baseados no caso português. (...) Também iremos promover a ideia de um Plano Nacional para a Integridade Desportiva, a promover junto de todos os governos e da União Europeia, com o PNED como caso de estudo", reforçou o diretor do Comité Científico.