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Madeira

'Pirata' da Madeira em dificuldades no Oceano Índico

O velejador madeirense Henrique Afonso, que está a dar a volta ao Mundo na 'Sofia do Mar', esteve a navegar com muita chuva e vento ao longo dos últimos oito dias. Faltam cerca de 3.500 milhas náuticas para chegar à Ilha da Reunião

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Infografia Rúben Santos/Eder Luís DN-Arte

Não se antecipava uma travessia fácil entre Timor-Leste e a Ilha da Reunião, e Henrique Afonso está agora a sentir na pele o que já augurava antes da partida rumo ao novo destino desta circum-navegação que se iniciou no Funchal, a 15 de Janeiro de 2019. O 'Pirata' da Madeira, como é carinhosamente tratado, está a caminho do território ultramarino francês e encontra-se actualmente a meio do Oceano Índico. Tem vindo a confrontar-se com muito mau tempo numa zona que é propícia à formação de ciclones.

"Já tenho humidade até nos ossos. Todo o barco está húmido. Agora o vento está mais calmo, mas não pára é de chover e não se vê mais longe do que meia milha. Está tudo bem a bordo", garantiu Henrique Afonso, que já percorreu cerca de 2.100 milhas náuticas. Faltam aproximadamente 3.500 para chegar ao destino pretendido, o único onde pode ancorar.

Este oceano não tem fim. Depois de oito dias de chuva, muito vento e mar pela Sofia adentro, humidade até aos ossos, aquela cervejinha bem fria nunca mais chega. Veremos se mato saudades daqui a 21 dias... Até lá, beijos e abraços Henrique Afonso, velejador madeirense

Há seis dias, o aventureiro já desabafava também no Facebook, na página onde publica todas as actualizações desta viagem. "Estou a levar muita castanha. O vento sobe e desce muito rapidamente e o mar está grande, tenho de andar muitas horas ao leme pois o piloto demora a pôr o barco no rumo. Cá me vou aguentando mas não está fácil, algumas ondas muito violentas que passam por cima de mim e da pequena 'Sofia do Mar'", escreveu.

Henrique Afonso partiu a 2 de Julho de Timor-Leste após sete meses de uma estadia forçada naquele país do Sudeste Asiático. Chegou no início de Novembro a Díli e no final desse mês zarpou rumo a Bali, mas o motor do barco avariou logo ao início da viagem. “Foi uma chamada de atenção, de um qualquer ser divino, a dizer pára e vai para trás”, assumiu em entrevista ao DIÁRIO.

Obrigado a regressar a terra para reparar a ‘Sofia do Mar’ chegou depois o vírus que o deixou ancorado por mais algum tempo em Timor. Esteve em confinamento no seu veleiro, experienciou um estado de emergência a mais de 15 mil quilómetros de casa e entregou durante a quarentena alimentos aos mais necessitados.

Na partida de Timor-Leste, Henrique mostrava-se ciente dos riscos que o podiam esperar, visto que acima da Linha do Equador também existe o real perigo de se deparar com piratas. Nada que tivesse feito demover o apelidado ‘Pirata da Madeira’, que se mostrou triste por não conhecer outros países asiáticos devido à crise pandémica.

Não pode ir para outro lado

Para que se tenha noção, o velejador não pode ancorar em nenhum outro local sem ser na Ilha da Reunião. “Foram já sete meses em Timor-Leste, onde estive perdido e sem saber o que fazer”, confessou o madeirense que se encontra em alto mar.

“A sorte é que conheci gente fantástica. É um país maravilhoso e um lugar fantástico. Gostei de lá estar. Fiz boas amizades e tenho muita pena de partir só que é tempo de ir embora. Há uma porta aberta e há que se aproximar de casa. É o momento. Os ventos estão a jogar a meu favor e tudo é favorável”, sublinhou no início do mês.

Sobre a estadia, destaque para a amizade que Henrique Afonso travou com o Nobel da Paz, Ramos-Horta, que ofereceu 500 dólares ao madeirense como forma de o ajudar nesta epopeia. “Era bastante difícil para mim ir para a rua e não saber o que fazer. Tentei ocupar o tempo o melhor possível e com esta história da quarentena estive a distribuir comida pelos vários distritos a pessoas mais necessitadas. São imagens impressionantes que guardo no coração”, mencionou o velejador, acrescentando que o vírus “parece que nem passou por Timor”.

O Mundo abriu-me uma porta, porque se esta porta não abrisse não sabia o que fazer. Timor-Leste é fantástico, mas não faz parte de mim estar parado tanto tempo num sítio Henrique Afonso, velejador madeirense

Recorde-se que o ‘Pirata da Madeira’, como é carinhosamente tratado, partiu da Marina do Funchal a 15 de Janeiro de 2019 para uma circum-navegação que pretende recriar o Vinho da Roda, processo que acelerará o processo de envelhecimento dos 200 litros de Vinho Madeira que leva consigo a bordo do veleiro ‘Sofia do Mar’. Ao longo deste ano e meio de viagem, o velejador já passou por Canárias, Cabo Verde, Caraíbas, Curaçau, Colômbia, Panamá, Equador, Polinésia Francesa, Samoa e Timor-Leste. Prepara-se assim para chegar ao continente africano e continuar a aventura que se avizinha findar no Verão de 2021, em plena freguesia do Paul do Mar.

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