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Boa Vida

Rabaçal, o local onde Marcelo Caetano comeu truta e quis pernoitar

Foto Hélder Santos/ASPRESS
Foto Hélder Santos/ASPRESS

Nesta 'Hora da Boa Vida' - rubrica digital onde sugerimos uma actividade aos nossos leitores - passamos pela Casa de Abrigo do Rabaçal, infra-estrutura que depois de vários anos votada ao abandono está hoje dotada com diversas valências, entre as quais serviços de cafetaria e alojamento.

Longe de tudo e em comunhão com a natureza. Assim classificamos a localização da Casa de Abrigo do Rabaçal. Na última semana, o DIÁRIO propôs-se a subir até aos 1.065 metros de altitude, na Calheta, e visitou este espaço carregado de história e simbolismo que voltou a abrir portas ao público após o confinamento.

Esta Casa que outrora serviu para albergar os tenazes homens que esculpiram na rocha, em pleno século XIX, levadas como as 25 Fontes ou Risco, tornou-se hoje um ponto de paragem quase obrigatório para turistas e, ultimamente, para muitos madeirenses. Neste particular, há uma história revelada ao nosso matutino por parte do actual responsável pelo espaço.

Contou-nos Ricardo Henriques que Marcelo Caetano deslocou-se à Madeira, em pleno Estado Novo, e fez questão de passar pelo Rabaçal, no então Posto Florestal. Desde logo, o sucessor de Oliveira Salazar manifestou a sua vontade em pernoitar neste mítico local, o que obrigou os madeirenses a improvisarem, no próprio dia, um quarto presidencial - todo forrado em madeira e alcatifado.

Ao final do dia, Marcelo Caetano mudou de ideias e acabou por não dormir no Rabaçal. O ex-ditador havia almoçado na Casa - comeu truta que a PIDE foi buscar à Costa Norte da ilha para se inteirar de que os peixes não estavam envenenados - e acabou por deixar para trás um aposento novinho em folha.

Como lá chegar: a pé ou à boleia

A equipa de reportagem do DIÁRIO desceu na sua própria viatura, porque a cancela que interdita a passagem de automóveis abriu-se. Pese embora seja “uma mais-valia descer a pé”, este caminho estreito, que nos liga até à estrada regional 110, foi encerrado ao trânsito “há uns 15 anos” e, nessa altura, possivelmente iam à Casa de Abrigo mais madeirenses do que estrangeiros.

“Evidentemente, ao longo dos últimos anos começaram a chegar mais e mais turistas para percorrer as levadas. O madeirense gostava de cá vir, mas também gostava de trazer o carro. Já os estrangeiros querem mesmo andar. Do ponto de vista prático é muito melhor, porque lá em cima chegam a estar 400 carros num só dia. Ou seja, se fosse permitida a descida e subida de automóveis até à Casa de Abrigo… ninguém chegava ou saía daqui. A natureza agradece e foi a melhor coisa que fizeram”, garante Ricardo Henriques.

Para descer e subir, a Câmara Municipal da Calheta, desde a altura em que foi encerrada a estrada, providencia um serviço de transporte. Todos os dias está operacional uma carrinha, das 9 às 18 horas. O valor do ‘transfer’, que inclui a descida e subida está fixado em cinco euros. Caso queira somente subir o preço desce para os três euros.

Ao longo dos anos foram feitos alguns ‘acrescentos’ na Casa de Abrigo e houve uma altura em que, como não era utilizada, o Governo Regional concedia licenças para algumas pessoas passarem ali os fins-de-semana. Também devido a esse uso por parte da população, o espaço acabou por ficar em condições “algo deploráveis”.

As obras de requalificação levaram praticamente dois anos a ficarem concluídas. Para além da cafetaria, de onde se destaca o varandim projectado para uma ampla zona verdejante, há a destacar os quatro quartos com “qualidade semelhante a uma unidade hoteleira” dentro da “mesma linha de decoração”.

O valor por noite, para duas pessoas, é de 150 euros, com pequeno-almoço e jantar incluído, sendo que a última refeição do dia dá primazia à comida de conforto. Depois das 18 horas, quem lá estiver alojado fica por sua conta e da natureza, havendo ainda uma sala comum com uma panorâmica de cortar a respiração.

Está em vigor uma campanha para a componente de alojamento, em que a primeira noite são 150 euros, a segunda fica por 100 euros e a terceira em 50 euros. Quer isto dizer que a médiafica nos 100 euros por noite, com pequeno-almoço e jantar incluídos.

Já sobre o ‘Rabaçal Nature Spot Cafe’, o destaque vai para as refeições mais leves. Ricardo Henriques, numa conversa pautada pela descontracção, indicou que às vezes os madeirenses que chegavam ali ao início diziam que este era um sítio espectacular para comer… um ensopado de borrego, “o que não combina muito com o facto de termos de andar, pelo menos, duas horas”.

Por isso, o ‘spot’ utiliza “comida natural”, isto é, nada é adquirido já feito e a equipa confecciona quiches, saladas, sandes ou bolos caseiros. No fundo, comida que dê para o cliente comer, saborosa e pouco pesada. Há ainda uma zona para fazer churrasco, como sempre teve, com casas de banho públicas. As pessoas acabam é por achar que dá muito trabalho levar as ‘tralhas’ todas até à Casa de Abrigo e, por isso, o espaço não é concorrido.

Daí que exista uma outra campanha para este Verão, que se prolonga até Outubro: o ‘Nature Spot Café’ vai fazer almoços para os locais, mediante pré-reserva. Haverá bacalhau, pato, costeleta de vaca ou coelho, tudo com acompanhamentos. O ‘pacote’ custa 25 euros e inclui entradas, pão, duas bebidas, prato principal e, mais importante, subida de carrinha até à estrada regional.

É no meio da natureza. Não é um espaço confinado e é mais fácil de andar sem máscara. Isso ajuda. Os madeirenses vão por isso frequentar mais a serra e os alojamentos deste tipo, que vão crescer muito. Porquê? Porque não se trata de um hotel, não há corredores com dezenas de quartos e as pessoas podem ficar separadas. Estes são os segmentos que mais vão crescer este Verão. Ricardo Henriques, responsável pelo 'Nature Spot Cafe'

As levadas que poderá percorrer

A partir da Casa de Abrigo do Rabaçal poderá percorrer, nas imediações, quatro percursos recomendados. Tem à sua disposição a Levada das 25 Fontes, Levada do Risco, Levada do Alecrim e ainda a Vereda da Lagoa do Vento. Para mais informações poderá consultar a lista disponibilizada pelo concelho da Calheta, onde poderá ficar a saber qual o grau de dificuldade do percurso, distância e tempo de caminhada.

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