Uma crise como nenhuma outra, uma recuperação incerta
“Uma crise como nenhuma outra, uma recuperação incerta” é o título da perspetiva económica de junho do Fundo Monetário Internacional, o que mostra bem a situação em que nos encontramos devido à pandemia. As projeções de junho são mais pessimistas que as de abril porque o impacto negativo na Economia, durante o primeiro trimestre, foi superior ao previsto e a recuperação, que se anseia, parece vir a um ritmo mais lento e demorar mais tempo a concretizar. Dado esta realidade não nos podemos deixar levar pela esperança de que a vacina está quase a ser descoberta e logo a seguir tudo vai voltar a ser igual ao que era.
A necessidade que houve de as pessoas ficarem nas suas habitações de modo a que o contágio abrandasse de ritmo e, deste modo, o número de infetados a necessitar de tratamento hospitalar ser enquadrável na capacidade instalada ou à medida que ia sendo instalada, provocou uma diminuição rápida do consumo privado e do investimento. Um grande número de empresas deixou de ter clientes e não havendo clientes e entrada de receitas não tiveram capacidade de continuar a pagar os salários dos seus trabalhadores. Estes trabalhadores, na sua maioria, não têm capacidade financeira acumulada, via poupança, para aguentarem sobreviver sem rendimentos. O que levou à necessidade de intervenção pública para garantir os rendimentos que permitam um nível mínimo de dignidade de vida. Nesta crise, o consumo privado caiu abruptamente arrastando consigo o investimento privado que dado o clima de incerteza também decresceu significativamente.
As medidas fiscais para tentarem aliviar os efeitos negativos da pandemia não resolvem os problemas, tornam mais suportável o presente, mas todos sabemos que não se podem prolongar muito no tempo porque implicam grandes aumentos do endividamento público com as consequências negativas que nós todos conhecemos do peso do pagamento dos juros no futuro.
A nossa Região, altamente dependente do turismo, foi ainda mais afetada pois não só a perdeu parte da procura da população residente que ficou confinada (e bem) como também perdeu a procura gerada pelos turistas. Esta é, a meu ver, uma diferença muito importante pois enquanto os residentes mesmo só saindo para o essencial continuaram a fazer os seus consumos do dia a dia, tendo alguns continuado a utilizar os serviços dos restaurantes via takeaway ou as entregas ao domicílio, os turistas fizeram as suas compras nos seus países de origem e foi uma perda total. A Região perdeu os seus turistas que representam uma percentagem muito significativa dos seus consumidores porque além de terem um poder de compra superior à média da população residente, durante os períodos de férias é normal gastar mais.
Acredito que o futuro que temos pela frente exige, da nossa parte, a capacidade de reflexão necessária para encontrarmos alternativas a um imaginar que tudo vai voltar ao “normal”, pois tal não vai acontecer nos tempos mais próximos. É altura de não deitarmos as culpas nos outros países que não facilitam o turismo, mas percebermos que a crise afetou muitos dos potenciais turistas, uns financeiramente e outros psicologicamente, e, que para além, da beleza natural da nossa Região e da sua tradicional segurança temos um ativo muito importante que é o baixo número de infetados e nenhum óbito. Este ativo pode vir a ser a nossa salvação, por isso tudo devemos fazer para o não perder.