O valor da gratidão
Esta semana fui surpreendida pela triste notícia do falecimento da D.ª Gabriela Oliveira. Um ícone na Escola da APEL que juntamente com o Sr. Pe. Mário Casagrande marcaram o percurso educativo de muitos alunos que frequentaram aquela escola.
Mais do que lecionar a disciplina de Inglês, a Prof.ª Gabriela Oliveira tinha a capacidade de reconhecer as potencialidades dos seus alunos, vendo o “mundo” que se escondia por detrás de cada um. Ensinava-nos o Inglês, obrigando-nos a pensar sobre os mais diversos temas. E como gostava de desafiar-nos... E, no meu caso, sabia ainda ler o meu silêncio.
É fácil ser ou dizer-se amigo de importantes, poderosos e pessoas influentes. A D.ª Gabriela Oliveira conhecia-os a todos, mas importava-lhe somente o potencial de cada aluno e a essência do ser humano que estava à sua frente. Não se importava com a “origem”. E como ganhava o respeito de todos com esta elegante simplicidade.
Mesmo em turmas difíceis, porque também as havia, era uma Senhora! Foi uma educadora de gerações de jovens com as hormonas em ebulição.
Acredito que existem momentos cruciais na nossa vida que nos fazem cruzar com as pessoas certas. Autênticos “Mestres” que nos influenciam positivamente para o resto das nossas vidas.
Através da D.ª Gabriela Oliveira passei a conhecer a Academia de Línguas da Madeira. Uma escola que assumia como sua missão de vida para ensinar línguas estrangeiras a todos aqueles que procuravam melhorar as suas competências para o exercício da sua profissão. E como reconhecia a importância do conhecimento das línguas estrangeiras na empregabilidade numa terra turística como a nossa. Era uma visionária!
Sempre que a encontrava, a conversa fluía, e, sempre senti que tinha um profundo orgulho em ter sido minha professora. Gostava de falar de política comigo. Era uma leitora dos meus artigos. De mim, sempre sentiu a minha gratidão e o meu carinho por me ter aberto as portas a um mundo que eu desconhecia e que me permitiu crescer.
Até na sua partida, a professora teve o dom de me fazer pensar. Refletir sobre a valorização, o reconhecimento e a gratidão, valores nobres que não se podem perder.
No mundo de hipocrisia e de degradação moral e política que vivemos, onde o orgulho, a frieza e a indiferença quanto ao bem-estar dos outros é comum, onde a gratidão da maioria dos homens não passa de um desejo secreto de receber maiores favores, ainda há quem seja genuinamente diferente e se preocupe com o bem-estar dos outros e procure fazer a diferença.
Evidentemente que há quem use e deite fora as pessoas como se fossem lixo. Mas, esses acabam por se verem rodeados apenas de bajuladores. Esquecem-se que uma pessoa grata é uma pessoa fiel e confiável e que não abandona. A gratidão é a maior medida do caráter de uma pessoa.
Paradoxalmente, as pessoas gratas nunca esquecem quem esteve, ou não esteve, do seu lado nas piores fases da vida, e também nunca esquecem quem as colocou lá.
A este propósito, lembrei-me da fábula do Leão e do Rato.
Um Leão dormia sossegado, quando foi despertado por um Rato, que passou correndo sobre seu rosto. Com toda a agilidade o Leão agarrou-o e estava pronto para matá-lo, ao que o Rato suplicou: “Veja bem, se o senhor me poupar, tenho a certeza que um dia poderei retribuir sua bondade.”
Apesar de rir por achar ridícula tal possibilidade, ainda assim, como não tinha nada a perder, ele resolveu libertá-lo.
Aconteceu que, pouco tempo depois, o Leão caiu numa armadilha colocada por caçadores. Assim, preso ao chão, amarrado por fortes cordas, completamente indefeso, sem poder mexer-se, refém do fatídico destino que certamente o aguardava, rugia violentamente.
O Rato, reconhecendo seu rugido, aproximou-se e roeu as cordas até deixá-lo livre. Então disse: “O senhor riu da simples ideia de que eu seria capaz, um dia, de retribuir seu favor. Mas agora sabe, que mesmo um pequeno Rato é capaz de fazer um favor a um poderoso Leão.”
Mesmo aquele que está no topo de uma montanha, um dia, pode necessitar de ajuda.
Ajuda e gratidão são coisa de gente nobre!