Terapia de floresta cá dentro na festa de S. Bento
Respirem fundo! Estão rodeados de múltiplos tons de manta de mil verdes da Laurisilva, em dobras de vales fundos sombreados, colinas de verdes claros, sulcos de mistério no avesso de cada dobra; mancha verde solar inclinada aqui, tombada ali, subindo acima ao azul celeste diáfano donde faísca o sol; e no fundo desta dobra, lá em baixo tapado pelo verde-escuro, ouve-se o marulhar da irmã água radiante, saltitando e abraçando pedras e calhaus em harmonia de sons chilreados de louvor. Ali em frente alguém aponta o terceiro irmão passarinho solitário do dia, saltitante por ramos e folhas, até encontrar bagas que, grato, debica sem temer nossa presença. Tinham valido a pena para o êxtase os dois quilómetros de passeio sobre grosso tubo da hidroelétrica; valeu o passo a passo de lanterna por túnel, apalpando o tubo grosso sobre levada, frígido que arrefece no escuro as costas e o calçado chapinhado na água vertida pelo chão. E valeu a pena a meia hora de levada famosa até o tintilhão alegrar, durante a nossa pausa, a olhar a saturação dos verdes multicolores da Laurisilva. O minitrator deixara trilhos na vereda por muitas cargas de materiais de renovação da levada. Admiram-se, agora, os altos louros e pasma-se com os troncos arbóreos das urzes seculares. Quinhentos anos? Pena não haver dizeres da sua idade. Depois de um “Lodato sii” pela bela criação de Deus, veio o desprazer do íngreme atalho por escada estafante de troncos. Mais adiante o apetite convida ao pãozinho e à banana, junto das quedas de água em fios e fitas, noite e dia, desfiando hinos sem fim. Só 25 fontes? Dizendo não ao cansaço, mais 3-4 quilómetros, com pausa, para fotos dos troncos das urzes velhinhas. Memória! Era a quarta visita, nos 60 anos de sacerdote e nos 17 de uma celebração de missa com jovens hospitaleiros, ali sob as velhas urzes em que o tronco tombado de uma teve honras de altar para Cristo. Surpresa! Lá estava, tombada, qual lombo de jumenta de Jerusalém. Tronco de trifurcação de pernadas grossas em que se ajeitou mesinha de toalhas para cálice, patena e pequeno missal; e o celebrante a cavalo no tronco. Os jovens, sentados no chão sobre folhagem, orientados pela Irmã Margarida Silva, cantaram os hinos da missa que terminou em piquenique e ida ao Risco. Agora, pausa! 17 anos depois, queria rever e fotografar a urze “eucarística”. As urzes gigantes lá continuam a crescer na barreira escarpada, 30 metros a norte da levada. Lá estava a urze ditosa tombada, como em 2003! Momento de fotos e regresso. Mas havia mais uma lembrança longínqua a celebrar. Afinal, este passeio terapêutico às 25 Fontes coroou o primeiro no verão de 1954 com outros Irmãos de S. João de Deus do Trapiche, em que até à Calheta, ida de carro, e vinda de Mosquito; e doutra, em 2013. A de hoje era a quarta e coincidia com a festa de S. Bento, padroeiro da Europa, Europa tão precisada da sua intercessão para sair de duas “pandemias”, do coronavírus e, mais grave, da de apostasia da fé cristã, marca Bilderberg com plano de nova ordem mundial sem Cristo. Por outro lado, após as quarentenas do Covid-19, aconselha-se a terapia de floresta, de origem japonesa, a que ao mergulho no ar puro e verde florestal se ligam muitos efeitos benéficos. Reduz o stresse, melhora a imunidade, regulariza o sono, baixa a tensão, desenvolve a paz interior. Associada ao passeio ritmado de uma-duas horas, melhora coração, circulação vascular e respiração; dá resiliência à postura ereta, aos ossos, articulações e músculos; regula os intestinos; reduz o peso, afina a atenção, o olhar e a audição; corta a ansiedade, a depressão e as insónias. Já os médicos recomendam uma hora de passeio diário, mas esta vez foi de três-quatro doses. Não há risco; só renova a pele dos pés. Passear está indicado para todas as idades, os 12 do grupo eram 9 a 90; basta adaptar o ritmo aos anos e às subidas, como S. Bento fazia ao subir o Monte Cassino onde instalou o seu miradoiro de contemplação das belezas de Deus, criando um património da humanidade, sempre atual, conhecido pela marca de ora et labora.
Aires Gameiro