>
Mundo

Luso-americanos organizam fórum sobre racismo e discriminação

O encontro decorre na Califórnia e é organizado pela Coligação Luso-Americana daquele Estado

None
Foto DR

A Coligação Luso-Americana da Califórnia (CPAC) organiza na quarta-feira, 15 de julho, um fórum sobre racismo e discriminação com intervenção de Antelmo Faria, Mary Xavier, Anthony Esteves, José Luís DaSilva e Rosemary Serpa-Caso.

A iniciativa, organizada com o apoio da FLAD - Fundação Luso-Americana, pretende abordar questões que até agora não foram discutidas na comunidade portuguesa, posicionando-se no rescaldo do movimento de justiça racial que foi para a rua após a morte do afro-americano George Floyd, no final de maio.

"Queremos escutar os mais novos da comunidade, que estão muito mais no mundo americano que dentro do mundo da aldeia da comunidade portuguesa", disse à Lusa Diniz Borges, presidente da CPAC. "Continuamos a ver que há racismo dentro da comunidade, como em todas", afirmou o responsável, "e há uma grande quebra entre o emigrante e os lusodescendentes, que estão mais preocupados com este assunto e o racismo dentro da comunidade".

Segundo Diniz Borges, as gerações mais velhas de emigrantes "têm a ideia de que não os afeta e que não são contas do nosso rosário". No entanto, os mais jovens "acham que é tempo que se tenha este diálogo dentro da comunidade portuguesa".

É o que pensa Anthony Esteves, 38 anos, escritor e autor do 'podcast' "Based on a True Journey". "Vejo as gerações mais novas de portugueses quererem fazer parte de uma mudança", disse o lusodescendente, um dos convidados do fórum. "Esta é a altura em que pode haver uma mudança na forma como olhamos para os direitos civis e os direitos humanos e como podemos tomar parte disso".

Baseado em Sacramento, norte da Califórnia, Anthony Esteves cresceu a falar português em casa e muito envolvido na comunidade luso-americana. "Ainda temos gerações que lançam mão do que ficou para trás, nos tempos do Salazar", afirmou. "Embora a revolução dos cravos tenha sido em 1974, ainda tempos uma mistura de portugueses que são conservadores da velha guarda e outros mais liberais".

Mary Xavier, que também participará no debate, disse que continua a ver essas tensões na comunidade portuguesa, entre os que emigraram durante a ditadura e os que já cresceram em solo americano.

"Tal como noutras comunidades, há racismo encapotado e muitas microagressões que acontecem com pessoas de cor", afirmou.

"A história de Portugal está entrincheirada no racismo, escravatura, colonização. Não foi assim há tantos anos, ainda tenho familiares que estiveram na guerra em Angola", disse. "Essas experiências dos soldados portugueses e a sua perceção de como foram recebidos quando tentaram preservar aquele território passaram de geração em geração", considerou. "As histórias que trouxeram, a maioria negativas, tornaram-se naquilo que muitos portugueses sabem sobre os africanos".

Casada com um afro-americano de origem jamaicana e com dois filhos birraciais, Mary Xavier disse que é importante ter estas discussões agora e levar as pessoas de gerações anteriores a saírem da zona de conforto. "Tendemos a ser uma comunidade conivente e é difícil ter este tipo de conversas. Se não falarmos nisto, é como se não estivesse a acontecer".

Aos 44 anos, Mary Xavier trabalha como assistente social e vê "um efeito nas crianças de cor, na sua autoestima, na saúde mental, sentem-se sem esperança e pensam que não importa o quão bem-sucedidos sejam, porque serão sempre julgadas pela cor da sua pele".

Segundo a lusodescendente, a discussão que a CPAC se propõe realizar será importante para abrir mentalidades. "É importante ter empatia e perceber as formas diferentes como as pessoas experienciam a vida na América".

Depois do primeiro fórum, a CPAC pretende trabalhar com outras organizações, como o Conselho de Liderança Luso-americano (PALCUS), para abordar mais questões sociais de relevo.

"Queremos também ter debates além deste assunto do Black Lives Matter e do racismo, tratar temas como a discriminação sexual e outros assuntos que têm sido tabu na comunidade portuguesa", explicou Diniz Borges. A série de debates deverá estender-se até outubro, ao ritmo de um por mês.

O responsável enquadrou os diálogos na missão da CPAC de ajudar a eleger lusodescendentes. "Os jovens têm-nos dito que são assuntos que nunca foram debatidos na comunidade portuguesa, mas que precisamos de debatê-los, para que aqueles que queiram depois ter alguma liderança política possam estar preparados", explicou Diniz Borges. "Queremos que estes fóruns também sirvam para preparar novos líderes".

O fórum será transmitido via Zoom e Facebook Live.

Fechar Menu