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Por uma cultura de apatia ou de inconformismo?

O sucesso na implementação de uma cultura de exigência é um trabalho de equipa, carecendo por isso mesmo do envolvimento de vários “atores” como sejam, os políticos, os governos, a administração pública, o mundo empresarial, as associações e quaisquer outras formas de organização popular e naturalmente, a família. É através deste conjunto alargado de intervenientes que deve chegar ao cidadão um elevado nível de exigência, o qual, estando já a vivenciar um patamar elevado, não aceitará mais a sua ausência ou diminuição. Se se começar desde muito cedo a incutir uma cultura de exigência, preferencialmente logo nos primeiros anos da escola, os resultados revelar-se-ão. Cabe a cada cidadão ser exigente nas mais diversas circunstâncias com que se depara na sua vida quotidiana, de modo a que todos, individual ou coletivamente, saiam beneficiados. Tal atitude terá um efeito “milagroso” na qualidade dos serviços públicos que são prestados ao cidadão, nomeadamente na saúde, no ensino, na justiça e outros, assim como e de extrema importância, na qualidade dos políticos que são eleitos. Uma cultura de exigência potencia inegavelmente a elevação dos níveis de qualidade e de responsabilização de uma sociedade. É assim premente que individualmente, cada cidadão, aloje em si esta necessidade de ser exigente com os outros e consigo. Não é, infelizmente, o que ainda assistimos e em grande escala, pois continua instalada maioritariamente uma cultura de aceitação indiscriminada, de apatia, que se caracteriza por um aceitar envolto em conformismo, herança que ainda tem origem numa atitude de subserviência enraizada e que foi incutida “pelos velhos senhorios”. Outra causa está relacionada com o baixo nível de literacia que nos dias de hoje ainda é patente em elevado número da população. Todos concordamos que a educação é um pilar fundamental para a formação da cidadania, mas persiste-se em ministrar um tipo de ensino que privilegia a aquisição de competências, em lugar da formação do pensamento crítico, que impulsiona a constituição de opinião e consequentemente é interveniente. Tal conduz-nos a um cenário onde é constatável a subida do nível de escolaridade da população, mas é apenas e só isso, ou seja, a saída do analfabetismo para um número expressivo de pessoas escolarizadas. No entanto, o essencial, isto é, elevar os níveis de literacia, é ainda uma miragem. Realmente e estatisticamente, temos hoje muitos diplomados, mas é notório que poucos são aqueles que lograram no seu percurso académico, da aquisição de uma armadura que obstaculiza e questiona aquilo que não é substancialmente eficaz. É necessário um modelo de ensino que promova a instalação de uma “visão penetrante”, pois sem ver para além das aparências, é difícil mudar, para melhor.

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