Lusodescendente documenta pandemia através da fotografia
George Pimentel mostra as “formas diferentes como as pessoas se estão a adaptar à pandemia”.
Inspirado pelas fotos a preto e branco durante o período da gripe espanhola em 1918, o fotografo lusodescendentes George Pimentel está a documentar as “formas diferentes como as pessoas se estão a adaptar à pandemia”.
“Já tive familiares que perderam a vida devido à gripe espanhola. Algumas das fotos dessa altura, a preto e branco, de pessoas com máscara, despertaram-me a curiosidade, senti que seria importante documentar este momento único que vivemos”, disse o fotógrafo à agência Lusa.
Durante a gripe espanhola, no final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, que matou mais de 100 milhões de pessoas, a utilização da máscara chegou mesmo a ser considerada obrigatória.
A paixão de George Pimentel pela fotografia vem de laços familiares, uma atividade iniciada pelo seu avô “Laranjo” na vila de Rabo de Peixe, na década de 1940. O seu pai, José, ao imigrar para o Canadá em 1966, deu continuidade a esse trajeto e desde 1971 que o seu ateliê de fotografia, localizado no Little Portugal de Toronto, continua de portas abertas.
O projeto de Fotografia da Covid do Canadá (Canada Covid Portrait, em inglês), de apoio à Galeria de Fotografia Canadiana, pretende documentar em como a covid-19 está a afetar nas várias vertentes, o dia a dia e o novo normal dos canadianos.
“Tenho andando na rua todos os dias a tirar fotos para este projeto. Existem imensos problemas com esta pandemia, achei que seria importante documentar, para ficar na história as diferentes formas como as pessoas se estão à adaptar a esta ‘nova’ vida”, acrescentou.
Uma pessoa ajoelhada na igreja, o dia de mãe com o distanciamento social, os próprios trabalhadores da linha da frente, são algumas das fotos mais simbólicas para o lusodescendente.
No entanto a fotografia deste projeto mais ‘emblemática’ para o lusodescendente, ocorreu durante uma visita ao seu pai, de 86 anos, em que o “simples abraço” não foi permitido.
“Quando fui visitar o meu pai, não foi possível abraçá-lo, foi muito emotivo para mim. Tivemos que tocar com as nossas mãos através da janela do meu carro. Que mundo é este o que vivemos, no qual nem sequer nos podemos abraçar ou tocar na nossa própria família?”, questionou.
Um dia George Pimentel espera “mostrar estas fotos aos netos ou bisnetos”, reconhecendo também “a importância de se educar as pessoas através da fotografia”.
Neste momento, com os eventos cancelados, incluindo casamentos e festivais de cinema, “esta é a melhor forma de se voltar para a arte”, dando “liberdade à criatividade para se mostrar a atualidade”.
O lusodescendente mostrou-se ainda orgulhoso pelas suas raízes e pela área onde cresceu “junto da comunidade portuguesa” tentando sempre que possível “apoiar o pequeno comércio na Dundas Street”, passando a mensagem através das fotografias, que as padarias, os talhos, e que os estabelecimentos continuam abertos”.
O projeto de Fotografia da Covid no Canadá, tem um objetivo final de apresentação numa exposição das fotografias, está aberto ao público em geral, que através de um simples telemóvel, pode participar pelo website canadacovidportrait.ca ou através das redes sociais Facebook e Instagram: CanadaCovidPortrait.
George Pimentel já fotografou estrelas da sétima arte como Robert de Niro, Will Smith, Tom Cruise, Nicole Kidman, Gwyneth Paltrow, Al Pacino, Sean Pean, Lady Gaga, Julia Roberts, ou o músico Bruce Springsteen, entre outras celebridades.
Desde 1993 que o lusodesdencente fotografa no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF), sendo o atualmente o fotógrafo oficial do evento.
As autoridades da cidade de Toronto, tinham até esta sexta-feira identificado 12 mil casos de pessoas infetadas com a pandemia, mais de 9.300 recuperações e quase 900 mortes confirmadas.
O governo da província do Ontário, anunciou na semana passada, que vai prolongar o estado de emergência, pelo menos até ao dia 30 de junho.