Não existe vacina para crise económica, mas é possível tratar sintomas
O presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, considerou hoje não existir “uma vacina” para a crise económica na zona euro resultante da pandemia de covid-19, mas defendeu a implementação de “tratamentos preventivos”, dados os sintomas, para evitar “choques”.
“A busca de uma vacina para este vírus, em termos medicinais, está a progredir à máxima velocidade, [mas] na política económica, não existe esse cenário, de ter uma espécie de vacina”, afirmou o responsável, que também é ministro português das Finanças.
Falando numa conferência ‘online’ sobre “Uma vacina para a zona euro”, organizada pela publicação financeira The Economist, Mário Centeno acrescentou ser, antes, possível “tratar os sintomas e criar tratamentos preventivos para acautelar os choques exógenos” nas economias da zona euro.
“E é isso que estamos a fazer neste momento”, assegurou.
Mário Centeno admitiu, ainda assim, que os decisores políticos europeus “não estavam preparados” para uma recessão desta ordem, realçando que “não havia qualquer livro de instruções” e que este é um vírus “ainda difícil de entender”.
“Os últimos dois meses foram um pouco confusos, mas fico satisfeito pela forma como nós, europeus, reagimos em conjunto”, observou o líder do fórum de ministros das Finanças da zona euro.
“Houve alguma tensão, mas mantemos a união”, acrescentou.
O responsável destacou, também, o trabalho feito pelo Eurogrupo para coordenar a resposta europeia à crise económica, frisando que “em 10 dias” foi aprovado um pacote de emergência constituído por três “redes de segurança”: uma linha de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade, um fundo de garantia pan-europeu do Banco Europeu de Investimento e o programa ‘Sure’ para salvaguardar postos de trabalho através de esquemas de desemprego temporário.
“Há 10 anos [na anterior crise financeira], foram necessários cerca de quatro anos para conseguir uma resposta consistente à crise, mas desta vez foi diferente”, adiantou Mário Centeno.
Porém, estes são “apoios temporários”.
“A nosso ver, isto é adequado para tratar dos sintomas, o que significa proteger a economia real, mas mais para a frente temos de reforçar o mercado único com um forte pacote para a recuperação, como o que a Comissão Europeia apresentou”, argumentou o presidente do Eurogrupo.
Segundo o responsável, aqui entram as propostas da Comissão Europeia para a criação de um Fundo de Recuperação de 750 mil milhões de euros para reparar os danos provocados pela pandemia da covid-19 e de um Quadro Financeiro Plurianual revisto para 2021-2027 no valor de 1,1 biliões de euros.
No que toca ao fundo, Portugal poderá arrecadar um total de 26,3 mil milhões de euros, 15,5 mil milhões dos quais em subvenções e os restantes 10,8 milhões sob a forma de empréstimos (voluntários) em condições muito favoráveis, mas a decisão sobre o aval da proposta cabe aos líderes europeus.
Também presente na ocasião, o vice-presidente executivo da Comissão Europeia com a pasta de “Uma Economia ao Serviço das Pessoas”, Valdis Dombrovskis, também comentou que, “infelizmente, não existe uma vacina para a devastação económica”.
E frisou ser necessária uma “recuperação económica completa e inclusiva” a nível europeu, que poderá ser alcançada a seu ver com as propostas de Bruxelas, para as quais apelou a “um acordo o mais rapidamente possível”.
Estas propostas serão debatidas numa cimeira de líderes a realizar-se no dia 19 de junho, mas deverá ser necessária outra, talvez em julho, para alcançar um acordo sobre o plano de recuperação.