Venezuelanos deslocados constroem acampamento improvisado na Colômbia
Um número crescente de migrantes venezuelanos está a afluir para um acampamento improvisado de refugiados numa área coberta por árvores nos arredores de Bogotá, aumentando os receios de um aumento de novos casos de covid-19.
Sem trabalho, sem dinheiro e com poucas opções durante a pandemia do novo coronavírus, os venezuelanos estão “acampados” em cerca de 160 tendas construídas com plástico e cordas, sem água potável, casas de banho ou eletricidade, sobrevivendo apenas da caridade de cidadãos colombianos vizinhos que lhes levam comida.
Os migrantes juntam-se em grupos de seis por cada tenda e sem qualquer possibilidade de efetuar qualquer ato higiénico, como um simples lavar de mãos, potenciando a propagação do novo coronavírus, embora vários residentes tenham afirmado que nenhum deles apresenta sintomas da covid-19 ou de qualquer outra patologia.
“Estamos a viver um inferno. Não sabemos quando isto irá acabar”, disse Cecílio Zagarra, organizador dos campos e um dos muitos venezuelanos que residem no acampamento.
Nas duas últimas semanas, as autoridades colombianas diminuíram em um quarto o número diário de migrantes venezuelanos (cerca de 400) que atravessavam a fronteira próximo de Cucuta, no nordeste da Colômbia e fronteiriço à Venezuela.
Segundo o Governo de Bogotá, as autoridades de Caracas apenas deixam passar os cidadãos venezuelanos três dias por semana numa fronteira agitada.
Paradoxalmente, esta situação criou um efeito estrangulador aos venezuelanos que pretendem regressar ao país.
A nova favela a norte de Bogotá tornou-se, assim, a casa de centenas de venezuelanos que estão sem saber o que fazer, situação agravada com o grande número de crianças, grávidas e de pessoas idosas.
A maioria dos migrantes não dispõe também de máscaras, o que, a juntar à inexistência de condições sanitárias e à exiguidade do espaço, se agrava ainda mais com a impossibilidade de manter um distanciamento seguro.
Zagarra, 30 anos, é o líder da comunidade e, como muitos outros venezuelanos, chegou à Colômbia há dois anos para trabalhar na construção civil, mas a pandemia de covid-19 obrigou toda a América Latina, tal como resto do mundo, a medidas de confinamento restritas, a permanecer em casa, rapidamente o deixando sem dinheiro.
“Mudou a minha vida em 180 graus. Os poucos recursos que tínhamos esgotaram-se em pouco tempo e expulsaram-nos das casas que arrendávamos”, explicou, o que está na origem da criação do acampamento, sem qualquer ajuda dos governos colombiano e venezuelano.
Mesmo assim, enquanto consegue também, ao mesmo tempo, manter a ordem no acampamento improvisado, Zagarra tem feito pressão junto dos dois governos para que lhes paguem pelo menos o bilhete de regresso a casa, ou apenas até à fronteira.
A nova comunidade faz parte dos estimados em cerca de cinco milhões de venezuelanos que deixaram a Venezuela nos últimos anos, fugindo à crise política e económica em que o país caiu -- cerca de 1,8 milhões de venezuelanos encontram-se na Colômbia e os restantes de dispersaram por outros países da região, como o Peru e o Equador.
As ordens de quarentena nestes países levaram a uma reversão dos migrantes venezuelanos, que afirmam não ter outra alternativa senão regressar ao país, onde lá, pelo menos, podem viver junto dos seus familiares.
Quase metade dos migrantes venezuelanos trabalha no setor informal, nas ruas das diferentes localidades, ou como empregados de balcão, não tendo outra possibilidade de obter rendimentos senão a de trabalhar todos os dias.
Segundo as autoridades da imigração colombianas, mais de 72.000 deslocados venezuelanos regressaram já ao país natal, muitos deles a pé durante mais de 20 dias, transportando consigo os seus poucos pertences.
Segundo os dados mais recentes, a Colômbia registou até hoje 33.354 casos de covid-19 (mais 1.521 nas últimas 24 horas) e 1.045 óbitos, enquanto a Venezuela recenseou, oficialmente, 1.952 infeções e 20 mortes. Ambos os dados, consideram fontes sanitárias, estão subavaliados, sobretudo na Venezuela.
A América Latina e Caribe registaram até hoje mais de 57.700 mortos (mais de 1,1 milhões de casos).
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 385 mil mortos e infetou mais de 6,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 2,8 milhões de doentes foram considerados curados.
Por regiões, a Europa soma mais de 181 mil mortos (mais de 2,2 milhões de casos), Estados Unidos e Canadá mais de 114.500 mortos (mais de 1,9 milhões de casos), Médio Oriente 9.962 mortos (mais de 437 mil casos), África com 4.606 mortos (mais de 163 mil casos) e Oceânia com 131 mortos (mais de 8.600 casos).