Militares destacados para protestos em Washington começam a regressar a casa
Vários militares que estavam destacados para ajudar a controlar os protestos em Washington, capital dos Estados Unidos, decorrentes da contestação pela morte do cidadão afro-americano George Floyd, estão a regressar às bases depois de dois dias de manifestações pacíficas.
De acordo com vários elementos das Forças Armadas norte-americanas, consultados pela Associated Press (AP), cerca de 200 militares da 82.ª Força de Resposta Aérea Imediata regressam hoje.
Os restantes elementos das Forças Armadas dos Estados Unidos que estavam destacados na capital deverão regressar a casa nos próximos dias, prosseguiram as fontes contactadas pela AP, que apenas concordaram em prestar declarações sob a condição de anonimato.
Cerca de 1.300 militares estavam destacados em Washington desde o início da semana. O único pelotão que vai continuar vigilante por causa dos protestos é o 3.º Regimento de Infantaria do Exército norte-americano, que habitualmente está a guardar o Túmulo do Soldado Desconhecido.
O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, disse hoje que se opõe ao envio de militares para controlar as manifestações antirracistas que eclodiram em todo o país.
“Não sou favorável [à decisão de] decretar o estado de insurreição”, que permitiria ao Presidente norte-americano, Donald Trump, enviar militares no activo para enfrentar os cidadãos que se manifestam nas ruas, nem à utilização dos reservistas da Guarda Nacional, declarou Mark Esper, em conferência de imprensa.
Para Esper, recorrer às Forças Armadas dos Estados Unidos “só em casos muito urgentes e terríveis”. O actual momento que se vive no país “não é uma situação dessas”, prosseguiu.
O recurso à Lei da Insurreição tem sido discutido nos Estados Unidos depois de Donald Trump ter falado sobre a utilização dos militares para travar os protestos em diversas cidades do país.
Esper autorizou o movimento de várias unidades no activo para bases militares nos arredores de Washington, mas não lhes pediu para entrarem em acção.
Em declarações aos jornalistas, no Pentágono, o secretário da Defesa criticou duramente a acção da polícia de Minneapolis, no Minnesota, que resultou na morte de George Floyd.
“Foi um homicídio e um crime horrível”, afirmou Esper, que já foi vivamente criticado por ter considerado que as ruas do país são “campos de batalha”, termo que o secretário da Defesa norte-americano considerou ser apenas um “jargão militar”.
“Faz parte do léxico militar com o qual cresci. É o que utilizamos de forma rotineira para descrever uma zona de operações. Não é uma fórmula dirigida contra a população e muito menos certamente contra os nossos concidadãos, como alguns sugeriram”, explicou.
O chefe do Pentágono admitiu, porém, ter cometido um erro, ao colocar-se ao lado de Trump quando o Presidente foi fotografado diante da Igreja Episcopal de São João com uma Bíblia na mão, momentos depois de as forças de segurança terem dispersado, com bastonadas e gás lacrimogéneo, os manifestantes que protestavam pacificamente próximo da Casa Branca.
“Faço todos os possíveis para permanecer apolítico e para evitar as situações que podem parecer políticas. Às vezes consigo, outras não”, explicitou.
George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de Maio, em Mineápolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.
Desde a divulgação das imagens nas redes sociais, têm-se sucedido os protestos contra a violência policial e o racismo em dezenas de cidades norte-americanas, algumas das quais foram palco de actos de pilhagem.
Pelo menos 9 mil pessoas foram detidas e o recolher obrigatório foi imposto em várias cidades, incluindo Washington e Nova Iorque.
Os quatro polícias envolvidos no incidente foram despedidos, e o agente Derek Chauvin, que colocou o joelho no pescoço de Floyd, foi detido, acusado de homicídio em terceiro grau e de homicídio involuntário.
A morte de Floyd ocorreu durante a sua detenção por suspeita de ter usado uma nota falsa de 20 dólares (18 euros) numa loja.