Onde há fumo, há fogo
Os melhores modelos de gestão relevam a importância dos recursos humanos, não só na sua capacitação técnica, mas também aproveitando o feedback em cada etapa das decisões de gestão, minimizando o risco e potenciando as oportunidades.
Em Portugal, notoriamente conhecido no passado por modelos arcaicos de gestão, muito tem melhorado, com muitas empresas a terem gestões participadas e gestores devidamente preparados e muito atentos aos seus colaboradores.
Infelizmente, a gestão pública não é tão célere a acompanhar o dinamismo da gestão privada.
Isto é especialmente verdade quando gere sobre as amarras políticas, muitas vezes agarrado a essa mesma nomeação e em empresas não expostas à praxis continuada da tolerância. Assim, habituadas a ouvir só alguns profissionais e a atender só uma a algumas necessidades, as gestões estão mais expostas ao favorecimento, até mesmo a corrupção, como consta aliás num recente relatório da OIT.
O ambiente de trabalho pode então assumir geralmente duas formas, a apatia ou a crispação, geralmente a associação das duas. O que é permitido a uns, mas não a outros, leva à situação de Mínimo Denominador Comum, isto em matemática significa a pior performance é aquela que nivela.
Nestas empresas, a entropia do sistema tende a aumentar. Desperdiçam-se recursos, sendo incapazes de ter índices de produtividade que outras, mais abertas, em que impera a entreajuda e responsabilização, conseguem.
Uma das principais vítimas é a transparência. Seja na gestão dos recursos, seja na definição das prioridades, seja na estatística da atividade, seja no feedback dos profissionais e dos clientes/utentes.
Se estas práticas são perniciosas em todas as áreas, na saúde tal é especialmente grave. O resultado final não é tanto o prejuízo e perda de parcela de mercado, mas sim a não prestação de cuidados fundamentais à população, incumprindo obrigações fundamentais aos cidadãos.
A tradução prática revela-se nas listas de espera para cirurgia, nos atrasos no acesso a exames de diagnósticos, na perda de fluidez dos circuitos dos doentes bem como na incerteza pessoal que a falta de transparência ocasiona.
Revela-se na prioridade às unidades e serviços próximos do poder decisório e no correspondente esquecimento de todas as outras que não deixam de ser estruturais para o sistema.
Ser gestor com estas amarras políticas e lóbis não é para todos. Está só ao alcance de quem aceita trabalhar sem exercer meritocracia, decidir sem a confiança dos colaboradores, penalizando seletivamente quem pensa diferente, sendo indiferente a que muitos utentes poderão pagar um preço alto.
A situação da Covid-19 expôs publicamente algumas destas gestões. O nosso dever como cidadãos é lutar para que sejam cada vez menos, até porque o desafio da pandemia está maior que nunca. Protejam-se!