Redução de Perdas de Água nas Redes de Distribuição da Madeira (I)
“A água é o princípio de todas as coisas”
[Tales de Mileto (séc. VII e VI a.C.)]
Sendo essencial para todas as formas de vida, a água é, simultaneamente, um bem cada vez mais escasso que, consequentemente, deverá ser preservado, evitando-se ao máximo o desperdício deste nosso insubstituível recurso natural.
Assim, numa perspectiva de gestão sustentada e integrada de recursos hídricos, enquadrada num difícil contexto de alterações climáticas, torna-se fundamental incrementar os níveis de eficiência de utilização dos recursos, nomeadamente através de novas tecnologias, reformulação e reabilitação de sistemas obsoletos, alteração de métodos de gestão e mudança de comportamentos, de forma a que as perdas de água não continuem a aumentar quase descontroladamente, colocando o futuro em risco.
Que não haja dúvidas: a situação actual na Região Autónoma da Madeira (RAM) é extremamente grave e os números falam por si: apenas cerca de 30% da água que sai dos reservatórios para a rede é facturada aos consumidores, ou seja...70% de perdas!
Para que se tenha uma noção da magnitude deste valor atente-se que, por exemplo em Portugal Continental, as perdas são de, aproximadamente, 30% (quase 2,5 vezes menores), e que das 241 Entidades Gestoras com registos publicados em 2018 apenas 6 (2% do total) apresentavam valores superiores a 70%.
Um outro facto muito preocupante é o de que o volume de perdas na RAM, em termos gerais, tem aumentado ano após ano com taxas elevadíssimas, pelo que facilmente se chega à conclusão de que não se pode continuar calmamente ao ritmo de cruzeiro actual, qual Titanic, ao som da música, indo alegremente de encontro ao icebergue.
Um aspecto, aparentemente de menor importância, mas que decerto também tem contribuído para que se tenha atingido o actual estado de coisas, é o mito enraizado de que os recursos hídricos da Madeira são praticamente inesgotáveis. Isso não é verdade. Não só os recursos não são infinitos, como também não há mais espaço para o desperdício, tantas vezes sob a capa de fatalismo, mantendo os continuados erros do passado. Há que mudar e encarar decisivamente este desafio, sem retorno, de mudança.
Mas independentemente do conjunto de razões que as provoca, a verdade é que as perdas de água estão num patamar inaceitavelmente elevado, absolutamente insustentável económica e ambientalmente e, caso nada se faça, estaremos a poucos anos do que quase poderíamos chamar de uma rotura com o próprio sistema hídrico - já para não falar em rotura financeira...
Em suma, a derradeira questão que é preciso encarar de frente e à qual urge dar resposta é: continuando todos (ou quase todos) em estado de negação, assumido ou não, e/ou continuando a fazer o mesmo de sempre, haverá água para esta ou para as próximas gerações? A resposta é não. Não, não haverá. E sim, sublinhe-se, o futuro está mesmo em jogo.
Por isso não há margem para adiar, não há tempo, sequer, para raivas, negociações ou depressões – há que aceitar a realidade e ousar transformá-la. Há um trilho que, apesar das muitas pedras pelo caminho, toda a Comunidade terá de percorrer em conjunto. Não há alternativa. Terá de haver, indubitavelmente, uma Obra de Geração (e não apenas física) que será, sem qualquer dúvida também, uma causa de gerações.
Como nos dita o senso comum, o primeiro passo para resolver qualquer problema é aceitar que ele existe. E este está bem à vista.
Sem quaisquer rodeios: aqui não há segundas oportunidades, está em risco a sobrevivência - é tempo de agir e de a Comunidade se mobilizar para uma causa que é de todos e para todos, actuais e vindouros.