A Máscara ou a Coragem do Medo
Coragem exige medo, e é com o medo do que pode vir que há que ter a coragem de agir
O receio de fazer alguma coisa, de tomar uma atitude quando nos sentimos ameaçados, seja física ou psicologicamente, é o que normalmente se define como medo.
Podemos dizer que é um estado emocional que resulta da consciência de um perigo (real, hipotético ou imaginário) ou da preocupação com determinado facto ou possibilidade.
Muitas vezes o medo é considerado como uma falta de coragem.
Mas não é assim! A coragem é uma capacidade de agir apesar do medo, controlando os receios, o temor, a intimidação.
É necessário medo para ser corajoso, ter confiança para seguir em frente em momentos complicados, enfrentando barreiras e problemas de difícil transposição, sejam de índole física ou emocional.
O medo e a coragem variam muito de pessoa para pessoa, dependendo do ambiente onde vivem, dos antecedentes sociais e emocionais em que foram crescendo, fazendo com que haja uma miríade de factores que influenciam respostas diferentes para situações eventualmente semelhantes.
Sem medo, sem receios, não há coragem!
Há inconsciência, há desprezo, há desrespeito!
Coragem exige medo, e é com o medo do que pode vir que há que ter a coragem de agir.
Muitos dos heróis (e alguns vilões) da nossa imaginação usavam uma máscara, não porque tivessem medo das suas acções, mas porque não queriam ser reconhecidos pelos olhos do mundo, tal como os heróis de hoje usam máscara para se defenderem dos vírus do mundo.
Os vilões das histórias de cowboys puxavam o lenço para cima, tapando a hemiface inferior, deixando os olhos à vista, para não serem reconhecidos por quantos iam assaltar, impedindo assim que as autoridades tivessem uma base para a sua identificação.
Alguns dos heróis da mesma época usavam uma máscara que tapava a hemiface superior, com dois orifícios para os olhos mas deixando à vista todas as características da hemiface inferior.
Vem-me à memória D. Diego de La Veja, na Califórnia do Século XIX.
D. Diego era um pacato cidadão, com horror à violência, que ostentava um orgulhoso bigodinho finamente aparado e cuidado, facilmente reconhecível em qualquer ambiente que frequentasse. Este pacato cidadão, com horror à violência, mantinha assim secreta a sua outra identidade.
Quando punha a sua máscara transforma-se no famoso Zorro que fazia a vida negra aos colonizadores espanhóis.
A máscara do Zorro tapava a hemiface superior, complementada por um lenço e um chapéu que tapavam a restante zona capilar. Mas o bigodinho, a boca e os malares ficavam à vista de quem quisesse reconhecer, apesar de nunca ninguém o ter feito, pelo menos nas histórias que li na minha juventude e adolescência.
Por outro lado, os bandidos usavam o lenço do pescoço, que fazia parte da sua habitual indumentária, para esconderem a hemiface inferior deixando à vista olhos e sobrancelhas, tantas vezes facilmente reconhecíveis.
Ambos, heróis e vilões, tinham uma grande dose de coragem
(ser bandido não está ao alcance de qualquer um...basta olhar para tanto colarinho branco, essa forma “elegante” e actual de usar o lenço a tapar a cara e tomar de assalto um banco ao pé de si!),
e de medo pois claro.
Tal como os heróis e vilões das histórias de cowboys, perante esta ameaça real que enfrentamos, temos de ter a coragem de enfrentar os nossos medos, se bem com as máscaras em posições inversas.
O vírus tem a sua máscara, aquela que tapa a parte superior, deixando à vista o bigodinho à Clark Gable, permitindo que possamos assim identificá-lo e alertar as autoridades para a sua presença, enquanto que todos nós temos o dever de usar as máscaras dos antigos vilões, deixando somente de fora os olhos bem alerta para os perigos que o bandido mascarado de bonzinho está desejando de espalhar por aí!
A vida dá muitas voltas, e agora, invertendo os papéis das máscaras, com medo, mas com muita coragem, vamos pôr a máscara dos vilões de antanho e lutar, com força, contra os que, agora se mascaram de bonzinhos!