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Desporto

A dúvida paira sobre a realização da Volta a Portugal

Um enorme ponto de interrogação paira sobre a Volta a Portugal em bicicleta, hoje adiada para data a determinar, com a prova rainha do calendário nacional, que se realiza ininterruptamente há 44 anos, a depender da evolução da covid-19.

As ‘retiradas’ de Viana do Castelo e, sobretudo, de Viseu, palco do dia de descanso e uma das cidades ‘incontornáveis’ da Volta a Portugal, abriram caminho a um desfecho que, desde há algumas semanas, parecia inevitável.

Embora a Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Governo tenham dado ‘luz verde’ à realização da 82.ª edição nas datas previstas, entre 29 de julho e 09 de agosto, e a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) se tenha mostrado inabalável na pretensão de levar para a estrada a prova que é, por excelência, a tradição do verão desportivo nacional, nos ‘bastidores’ a realidade era outra.

À medida que os dias passavam, sem um anúncio oficial do percurso, e sem que os municípios demonstrassem uma vontade férrea de receber a Volta a Portugal, a dúvida sobre a viabilidade de ‘erguer’ a mais emblemática das provas velocipédicas nacionais, profundamente dependente das autarquias, num tão curto espaço de tempo, crescia exponencialmente.

A renúncia de Viseu, que acolheria o final da sexta etapa e o dia de descanso, mas não as habituais ‘festividades’ da prova, vetadas’ no plano aprovado pela DGS, como o concerto ou a Etapa da Volta, destinada a amadores, terá sido a ‘machadada’ final que obrigou a organização a adiar a prova.

Esta é a primeira vez que a Volta a Portugal é efetivamente adiada -- outras edições tiveram apenas ‘acertos’ pontuais no calendário. A prova realiza-se ininterruptamente há 44 anos, desde 1976, depois de não ido para a estrada em 1975, devido à Revolução do 25 de Abril.

Antes, a realização já tinha sido suspensa noutras quatro ocasiões, entre 1928 e 1930, 1936 e 1937, e 1953 e 1954, por dificuldades na organização, e entre 1942 e 1945, devido à II Guerra Mundial.

Difícil agora será ‘encontrar’ espaço, num calendário velocipédico sobrecarregado, para a Volta a Portugal brilhar: a partir de 01 de agosto, o WorldTour está de regresso e, com ele, uma temporada frenética, sem pausas para respirar, no qual a elite do ciclismo mundial tentará recuperar o tempo perdido, desde inícios de março, com a pandemia do novo coronavírus.

Ainda que a Volta a Portugal não entre nesse escalão, é expectável que a organização da corrida portuguesa não queira que esta coincida com a prova rainha do ciclismo, a Volta a França, marcada entre 29 de agosto e 20 de setembro.

Menos problemático, no entanto, seria sobrepor as datas da corrida nacional às da Volta a Itália (03 a 25 de outubro) ou da Volta a Espanha (20 de outubro a 08 de novembro), as duas outras grandes voltas, agendadas já para depois dos Mundiais (20 a 27 de setembro).

Contudo, outros fatores pesarão nessa definição e até, em última instância, num possível cancelamento: a evolução da pandemia da covid-19 -- uma eventual segunda vaga seria ‘fatal’ para as aspirações da prova -- e a vontade dos municípios, que, num cenário de crise, podem abdicar de receber a Volta a Portugal.

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