Analistas mais confiantes num acordo pós-Brexit entre Reino Unido e UE
Vários analistas mostraram-se hoje confiantes na possibilidade de um acordo de comércio pós-Brexit entre o Reino Unido e a União Europeia (UE), cujas negociações recomeçam na segunda-feira.
Antigo assessor do governo e atualmente diretor na sociedade de advogados Hogan Lovells, Robert Gardener acredita que “vai existir um acordo porque é politicamente importante para este Governo [britânico] que exista um acordo”.
A questão, acrescentou, “é o que significa um acordo e até onde vai para satisfazer o que se considera acordo”, afirmou, sugerindo a possibilidade de uma “solução híbrida” para contornar problemas relacionados, por exemplo, com a soberania.
A criação da Igreja Anglicana pelo rei Henrique VIII para contornar a recusa do Papa Clemente VII em aceitar o divórcio do rei inglês da rainha Catarina de Aragão é um exemplo, referiu, durante um debate virtual com jornalistas da Associação de Jornalistas Estrangeiros no Reino Unido.
“Pode ser que se chegue a um entendimento sobre uma série de políticas em áreas que são aceitáveis para ambos os lados para que todos possam reivindicar que se chegou a um acordo e deixar outras áreas para que possam ser decididas individualmente ou por prioridade económica”, exemplificou.
Após quatro rondas de negociações, as duas partes reconheceram falta de progresso, identificado como pontos de discórdia condições equitativas no acesso do Reino Unido ao mercado europeu, a criação de um mecanismo de resolução de disputas e o setor das pescas.
As duas equipas negociadoras decidiram intensificar as negociações e passar a reunir-se todas as semanas de 29 de junho até 31 de julho para tentar chegar a um resultado antes do final de outubro.
Charles Brasted, especialista em direito público da Hogan Lovells, adiantou que o Governo britânico “poderá aceitar alinhar-se em certas áreas, mas ao mesmo tempo identificar uma saída para quando decidir divergir no futuro”.
O Financial Times avançou esta semana que Londres está disposto a aceitar condições equitativas, “mas reservaria o direito de divergir das regras da UE; nessas circunstâncias, a UE poderia punir o Reino Unido com tarifas sobre as suas exportações”.
Esta “divergência controlada”, bem como um potencial compromisso sobre apoios estatais a empresas, aumentou a probabilidade de um acordo, acrescenta o analista Mujtaba Rahman, diretor na Europa da Grupo Eurasia, numa nota publicada hoje.
No caminho do acordo continua um obstáculo importante relacionado com o papel do Tribunal Europeu de Justiça, o qual o primeiro-ministro, Boris Johnson, recusa que tenha primazia sobre o direito britânico.
Mas Rahman acredita, como Robert Gardener, que um acordo é agora do interesse político de Johnson porque a ausência de entendimento criaria a perceção de fracasso e daria argumentos à oposição.
“O facto de o Reino Unido agora parecer pronto para fazer um acordo é sem dúvida mais importante do que mapear onde poderão estar as possíveis zonas de desembarque. No final, Johnson vai vender o que conseguir em Bruxelas como um bom resultado para o Reino Unido”, antecipa.