Cientistas da NASA sugerem que oceano de uma das luas de Júpiter terá condições para albergar vida
Simulações feitas por cientistas da agência espacial norte-americana NASA sugerem que o oceano subterrâneo da gelada Europa, uma das quatro maiores luas de Júpiter, terá condições para albergar vida, foi hoje divulgado.
Os resultados do trabalho, ainda não publicados, foram apresentados na conferência Goldschmidt, considerada a principal conferência sobre geoquímica, promovida pela Sociedade Geoquímica, nos Estados Unidos, e pela Associação Europeia de Geoquímica. Este ano, devido à pandemia da covid-19, a iniciativa decorre à distância, terminando na sexta-feira.
Cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, na Califórnia, socorreram-se de dados da sonda Galileu (que esteve na órbita de Júpiter entre 1995 e 2003) e criaram modelos geoquímicos de reservatórios de água do interior de Europa, a sexta maior lua do Sistema Solar (mas um pouco mais pequena do que a Lua da Terra) e que terá um oceano debaixo da sua camada superficial de gelo.
Segundo os cientistas, as simulações, combinadas posteriormente com dados recolhidos do telescópio espacial Hubble, na órbita da Terra há 30 anos, revelam que a superfície de Europa terá cloreto, indiciando que a água subterrânea da lua de Júpiter será muito provavelmente igualmente rica em cloreto, o mineral em maior concentração na água dos oceanos da Terra.
“Pensamos que este oceano [de Europa] pode ser habitável para a vida”, afirmou o investigador que liderou o estudo, Mohit Melwani Daswani, citado em comunicado pela organização da conferência Goldschmidt.
O estudo sugere que o oceano de Europa terá sido, no início, moderadamente ácido, com altas concentrações de dióxido de carbono, cálcio e sulfato (que também se encontram dissolvidos nos oceanos da Terra).
A equipa da NASA vai, agora, com grupos de investigação em Nantes, em França, e Praga, na República Checa, tentar aferir se vulcões submarinos poderão ter contribuído para a evolução da composição da água em Europa, tornando-a rica em cloreto.
Os cientistas defendem, depois de terem feito um modelo para a composição e as propriedades físicas do núcleo, da camada interior rochosa e do oceano de Europa, que diferentes minerais perdem água e voláteis a profundidades e temperaturas diversas.
O oceano da lua de Júpiter, descoberta pelo astrónomo Galileu Galilei em 1610, ter-se-á formado a partir da decomposição de minerais contendo água, devido a forças de maré ou à desintegração radioativa (fenómeno de transformação de um átomo noutro através da emissão de radiação a partir do seu núcleo instável), sustentam os autores do estudo.
De acordo com os cientistas da NASA, que pretende enviar para o espaço, ainda sem data definida, uma sonda para estudar Europa em detalhe, os modelos sugerem que os oceanos de Ganimedes, outra das quatro maiores luas de Júpiter, e de Titã, lua de Saturno, poderão ter-se formado através de processos semelhantes.
A lua Europa orbita Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, a cerca de 780 milhões de quilómetros de distância do Sol. A temperatura à sua superfície não ultrapassa os -160ºC, desconhecendo-se a temperatura da água do seu oceano.