Aprender a lidar com o bicho
Para a nossa saúde e para garantirmos o rótulo de “destino seguro”, tão necessário à nossa sobrevivência, necessitamos redobrar os cuidados
Ando preocupada com o que vejo na rua. Assiste-se a uma falsa sensação de segurança que pode ser muito perigosa. Muitos estão convencidos que o pior já passou e que “agora estamos em segurança”, quando, na minha opinião, ainda nem vamos a meio desta tormenta.
Depois de um período de grande medo e de zelo contra um vírus que mata e contagia de uma maneira impressionante, vivemos um período de grande descontração quanto às regras. Não tenham dúvidas - a luta contra o Covid-19 só vai ficar resolvida quando se descobrir uma cura, ou uma vacina que naturalmente vai demorar a aparecer. Não vale a pena sequer pensar que “vamos voltar à normalidade”. A “normalidade” agora é conviver com o vírus.
Nem mesmo na saúde, a situação está controlada. Vejam a situação em Portugal, na região de Lisboa e Vale do Tejo e a 2.ª vaga da doença em vários países. A China voltou a fechar vários bairros e a situação está complicada em Pequim. Isto para não falar no efeito da “contaminação” das economias, inclusive na nossa. Todos já percebemos o efeito maléfico do bicho e só agora começamos.
Apesar de ter plena consciência da situação atual, para uma Região como a nossa, é impossível mantermos o aeroporto fechado ao turismo. Confesso que não sei como vão as pessoas reagir a esta possibilidade de poderem fazer turismo. Não sei se, à conta do medo da doença, as pessoas evitarão viajar, ou se, pelo contrário, para desconfinar, vão procurar viajar para os ditos “destinos seguros”.
O que sei é que a nossa economia está extremamente dependente do turismo. O nível de dependência existente é de tal ordem que, neste momento, nós não temos alternativa. Não conseguimos sobreviver sem abrirmos a nossa economia ao exterior. Já pensaram quantas pessoas recebem o seu ganha pão através do turista que visita a nossa terra? Em termos económicos, é preciso atender às dificuldades económicas das pessoas e garantir que a população tenha meios de subsistência.
E atenção que quando falamos no turismo estamos a falar do cluster Turismo, ou seja, em todas as empresas que se alimentam da atividade turística. Não estamos só a falar em hotéis, agências de viagens, operadores turísticos. Falamos também de todas as empresas cujos principais clientes são turistas: empresas de animação turística, restaurantes, bares e esplanadas, espaços criados de atração turística e todos os espaços visitados pelos turistas. E se considerarmos a quantidade de empresas que fornecem serviços e produtos a todo o cluster do turismo, percebemos claramente o efeito em cascata desta crise na nossa economia regional.
Nenhuma atividade económica na nossa Região se vai safar das consequências desta crise. Até a construção civil, a segunda atividade económica mais importante do nosso tecido empresarial, sofrerá consequências.
Por isso, pergunto: Vão continuar a maltratar os turistas? Vão mandá-los “para a sua terra” e tratá-los como leprosos como fizeram no início da pandemia?
O nosso turismo abre a 4 de julho. Com esta abertura, o risco de contaminação aumenta na nossa Região. Para a nossa saúde e para garantirmos o rótulo de “destino seguro”, tão necessário à nossa sobrevivência, necessitamos redobrar os cuidados.
Manter as regras de distanciamento social e respeitar as recomendações de higiene acrescida é imprescindível. Quanto mais se abre a economia, mais é importante respeitar as recomendações.
Se me perguntarem se considero necessário diversificar a nossa economia, tornando-a menos dependente do exterior, claro que concordo. É imperativo diversificá-la para outras áreas de forma a fortalecermos a nossa economia que está muito frágil. Alavancar através da reestruturação económica é preciso! Criatividade exige-se! Negar isto é atirar areia para os olhos.
Adaptarmo-nos é a solução. Testar novas ideias é o único caminho a seguir. E tenho, sobretudo, uma certeza – que estamos a ser testados na nossa essência e condição humana. Que nunca se perca a bondade humana para ajudar quem precisa. Que se trate os infetados e se acompanhe os casos duvidosos com a maior dignidade humana possível. E lembrem-se que foi a nossa essência de povo acolhedor, resultante de uma bondade genuína que sempre nos caracterizou, que nos ajudou a ser uma Região de Turismo de Qualidade.