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Uma violência contra os idosos “dura de se ouvir”

Celebrou-se no passado dia 15 de Junho, o Dia Mundial da Consciencialização da Violência contra a Pessoa Idosa. Este dia é assinalado desde 2006, mas parece-me que deveria ser celebrado mais amiúde dada a situação em que se encontram muitos idosos no mundo e, em particular, em Portugal.

Na véspera as televisões divulgaram um vídeo onde um filho agredia o pai, com mais de 90 anos, com um cinto em plena via pública. Se o fez aos olhos de todos, o que não fará no ambiente familiar. O caso já seguiu para investigação e aguardamos por desenvolvimentos futuros para saber o que acontece neste país a quem pratica um ato tão bárbaro.

As mortes por COVID de tantos idosos (à exceção da RAM) mostram bem a incapacidade da sociedade de os proteger contra uma epidemia que sabíamos que os atacava de forma tão mortífera. Devíamos aproveitar esta crise para fazer uma reflexão profunda do que podíamos ter feito e não fizemos.

Os idosos foram os grandes esquecidos das medidas de apoio às famílias, pois não me dei conta que tivesse havido uma só medida de apoio às famílias com idosos. Veja-se o caso, que as televisões noticiaram, de uma filha que não tinha com quem deixar a Mãe idosa porque tinha que regressar ao trabalho presencial e a cuidadora que apoiava a Mãe não podia ajudar porque estava em casa para cuidar dos filhos pequenos. O Governo e os partidos políticos parecem insensíveis a este tipo de dramas, apesar de muitos apregoarem que os idosos devem permanecer no seu seio familiar.

As famílias com idosos tudo fizeram para os proteger, por isso seria interessante comparar as taxas de infeção e mortalidade dos idosos que estiveram no meio familiar e os que estavam institucionalizados durante a pandemia. Não foi e continua a não ser fácil para os cuidadores informais de idosos enfrentar esta pandemia sob a ameaça constante de que o vírus possa entrar novamente na região.

Não pode ganhar a ideia de que as medidas de proteção são muito restritivas e que a vida pode voltar ao normal, pois mesmo com algumas restrições no Continente o vírus conseguiu chegar a muitos lares de idosos. A liberdade de alguns estarem na praia em grandes ajuntamentos pode significar cuidadores a terem que andar todos equipados dos pés à cabeça ... se já sem esses equipamentos a tarefa não é fácil, imagine-se o que ter que fazer força com um fato e uma máscara que não deixa respirar.

É altura de sermos empáticos com os idosos e com quem cuida deles e mudarmos as leis. Não é o só o vírus que tem que ficar fora dos lares dos idosos, é também o ruído para que o idoso possa descansar durante o dia. Não é admissível partir do princípio que as pessoas não estão a descansar entre as 8 e as 20h, como faz a lei do ruído. Assim, um idoso pode estar meses a não conseguir descansar durante o dia porque, por exemplo, alguém decidiu comprar um apartamento junto ao seu e desata a fazer obras que implicam destruir paredes, tirar soalhos, fazer buracos para colocar canalizações, ou seja, fazer um novo apartamento. A lei do ruído permite que o barulho se estenda das 8 às 20 horas, independentemente de quem vive nos apartamentos vizinhos, sejam eles novos ou velhos, deficientes ou muito vulneráveis. Claro que o vizinho tem direitos... e o idoso não tem? Será que o barulho não é uma forma de violência que invade o lar do idoso?

Pode-se argumentar que além do plano da lei há também o plano ético e os responsáveis pelas obras em prédios urbanos habitados deveriam estar sujeitos a normas que respeitassem o bem-estar dos vizinhos, em particular, os mais vulneráveis, nas suas residências. Só deste modo as famílias não se questionarão se os idosos no seu meio não terão menos direitos do que os institucionalizados, onde, por certo, ninguém aceitaria que idosos fossem sujeitos a tamanha barulheira.

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