Pedro Lima, o actor de teatro que a televisão dominou
O actor Pedro Lima, encontrado morto, hoje, aos 49 anos, na Praia do Abano, em Cascais, era um actor de teatro vindo da televisão, que este meio tornou popular, através de telenovelas como “Amar Demais”, em exibição na TVI.
A carreira como actor remonta a 1997, quando já era modelo, atleta de alta competição e apresentador do Magacine da RTP2, depois de ter passado pelo curso de Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico.
Trabalhou em companhias independentes como os Artistas Unidos, a Companhia de Teatro de Almada e o Teatro Aberto, mas também em produções de Filipe La Féria e do Teatro Villaret, e naquelas que levou a cena, através da Prati, numa parceria que estabeleceu com Raul Solnado, nos primeiros anos 2000.
Deu vida a personagens de dramaturgos como Samuel Beckett, David Mamet, Tom Stoppard, August Strindberg e Anton Tchekhov, entrou no cinema de Carlos Saboga, Nicolau Breyner e Joaquim Leitão, mas foi através de telenovelas e séries filmadas que o grande público fixou o seu rosto.
No teatro ou na televisão, porém, a sua preocupação residia sempre na vontade de “tocar o coração das pessoas”, de as provocar, levar a pensar, recuperar memórias, como disse em diferentes entrevistas de perfil, da RTP, onde iniciou a carreira como apresentador, às revistas ‘cor de rosa’, que o trabalho em novelas lhe impôs.
Pedro Manuel Barata de Macedo Lima nasceu em Luanda, em abril de 1971, fixou-se em Portugal, mas manteve a dupla nacionalidade que lhe permitiu representar o país natal em provas de natação de alta competição. Foi atleta olímpico, por Angola, nos Jogos de Seul (1988) e de Barcelona (1992), nos estilos livres e de mariposa.
A ‘alta competição’ esteve também nos modelos que passou, dos principais ‘designers’ portugueses, como José António Tenente, aos internacionais, como Emporio Armani.
A estreia no teatro aconteceu em “Balas Sobre a Broadway”, de Woody Allen, no Teatro Municipal do Funchal, com encenação de Eduardo Gaspar, de acordo com a biografia publicada no ‘site’ dos Artistas Unidos.
No trabalho com esta companhia de Lisboa, quando ainda se encontrava no Teatro Taborda, entrou nas criações coletivas “Cada Dia a Cada Um a Liberdade e o Reino” (2003), e “Noruega-Lisboa-Noruega” (2008), uma colagem de textos de autores portugueses e noruegueses, que sucedeu à estreia, em 2005, de “Inverno”, de Jon Fosse, numa encenação de Jorge Silva Melo.
Com a Companhia de Teatro de Almada, o trabalho de Pedro Lima centrou-se nas temporadas que atravessam 2013 e 2014, em peças como “Negócio Fechado”, de David Mamet, “O pelicano”, a obra maldita de Strindberg, aqui dirigida por Rogério Carvalho, e “Kilimanjaro”, sobre a novela de Ernet Hemingway, com encenação de Rodrigo Francisco.
No Teatro Aberto fez “Socos” (2001) e “Paisagens Americanas” (2004), de Neil LaBute, e “Agora a sério” (2010), de Tom Stoppard. Trabalhou ainda com companhias como Escola das Mulheres, com quem fez “Vânia”, de Tchekhov, e A Companhia de Teatro do Algarve, para quem interpretou Beckett (”À espera de Godot”), e Vichnievsky (”A tragédia optimista”), em 2015.
No seu percurso contam-se ainda “A Casa do Lago” sob a direção de Filipe la Feria, com Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho, “A Noite”, de José Saramago, pelo encenador José Carlos Garcia, “A Memória da água”, de Shelagh Stephenson, que levou a cena com a produtora Prati, fundada com Raul Solnado, e que também montou comédias como “O Método Gronholm”, do catalão Jordi Galcerán, na Casa do Artista.
Um dos seus últimos trabalhos em palco foi “Os Vizinhos de Cima”, no Teatro Villaret, do autor catalão Francisco Gay i Puig, conhecido como Cesc Gay.
No cinema, destacam-se os seus desempenhos nos filmes “O Contrato”, de Nicolau Breyner, sobre o policial de Dinis Machado, “Quarta Divisão”, de Joaquim Leitão, e “A Uma Hora Incerta”, de Carlos Saboga, sem esquecer trabalhos como “Transito Local”, de Fernando Rocha, e “Second Life”, de Alexandre Valente.
Numa carreira de quase 25 anos, como ator, Pedro Lima trabalhou ainda com atores, encenadores e cineastas como Cláudio Occhman, Almeno Gonçalves, Isabel Medina, Vasco Rosa, Miguel Gaudêncio e Francis Manceau.
Tudo partiu de um desafio lançado pelo também ex-modelo e ator Ricardo Carriço e de uma breve figuração no Herman Enciclopédia, de Herman José, em 1997. Depressa surgiria em “Não Há Duas sem Três”, comédia com Rita Ribeiro e José Raposo, e na telenovela “A Grande Aposta”, da RTP.
A partir de então foram mais de três dezenas de produções televisivas, entre séries e telenovelas como “Amar Depois de Amar”, “A Herdeira”, “Beijo do Escorpião”, “Destinos Cruzados”, “Fala-me de Amor”, “Ninguém Como Tu”, “Inspector Max”, “Coração Malandro”, “Todo o Tempo do Mundo”, “Major Alvega”, “Os Lobos” ou “Os Jornalistas”. O caminho parou em “Amar Demais”.