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Assintomáticos

Caro leitor, perdoe-me a ousadia, mas começo por lhe perguntar se, em consequência da pandemia que vivemos, considera que é expetável que venham a existir grandes mudanças na nossa sociedade ou se, pelo contrário, assim que existir vacina ou medicamentos seguros e eficazes tudo voltará ao que era antes?

Qual é o seu desejo?

Também gostaria de voltar à dita normalidade ou pensa que seria uma boa oportunidade para, de uma forma articulada e coerente (sem atender a clientelas e entrar em negociatas), se iniciarem ou se acelerarem reformas (que não sejam meros atos de cosmética e de retórica), por exemplo, ao nível da saúde, da justiça, da educação, do desporto, etc.?

Tem receio da mudança? Conhece e sente na pele as disfuncionalidades dos diferentes sistemas, mas receia a mudança pois não sabe “para onde quer ir, só sabe que não quer continuar como está”? Ou, pelo contrário, pensa que não são necessárias grandes mudanças, “basta” (o que por si só seria uma grande mudança) que cada um seja mais honesto consigo próprio e com os outros e que exista bom senso, para que tudo funcione melhor?

Se considera que este tipo de perguntas são mais do mesmo e só servem para discussões estéreis e inócuas, no fundo que só servem para perder tempo, permita-me que abusando da sua paciência (uma vez que já conseguiu ler até aqui), lhe peça que imagine que está na sala de espera de um consultório médico (público ou privado, para não ferir suscetibilidades) e pega numa revista com um daqueles questionários que alegam servir para nos conhecermos melhor, com questões do tipo: - Da esfera privada à profissional o que é que aprendeu com a pandemia? - Alguém ou alguma instituição o surpreendeu (positiva ou negativamente)? - Sabendo o que sabe hoje, se voltasse a existir estado de emergência, faria algo de diferente? - Que medidas devem ser tomadas a curto, médio e longo prazo para que no futuro possamos estar melhor preparados?

Também considera que este tipo de perguntas é estéril e inócuo?

Então talvez seja melhor falarmos de futebol ou melhor, de bola.

Para todos aqueles que desejam o regresso à dita normalidade, o reinício do futebol não desiludiu. Voltou e disse ao que vinha, a tradição ainda é o que era. Tudo na mesma, guerrinhas institucionais, ameaças, violência, insinuações, contratos paralelos, jogadas de bastidores, maledicência, levando alguns órgãos de comunicação social e as redes sociais ao rubro, etc. etc. e isto sem público nas bancadas...

Mas, em boa verdade, alguém esperava que fosse diferente? O que levaria cada um de nós enquanto produtor e/ou consumidor (direto e indireto) de futebol a modificar os comportamentos habituais?

Porque é que pessoas que prezamos e são justamente reconhecidas como lúcidas e competentes na sua atividade profissional, por vezes, “defendem” os seus clubes de forma completamente demagógica, irracional e doentia?

No futebol, como em tantas outras áreas, é impressionante como é que algumas pessoas são completamente assintomáticas no que respeita à inteligência e à honestidade intelectual...

O estudo dos assintomáticos e das formas de transmissão relativamente ao Covid-19 parece assumir uma grande importância na compreensão e resolução da atual pandemia. Talvez o estudo dos assintomáticos relativamente à inteligência e à honestidade intelectual também seja de grande importância para a compreensão e resolução de alguns problemas de muitas outras áreas...

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